Os principais índices acionários de Wall Street despencam nesta segunda-feira (10) em meio a temores sobre o impacto das políticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O índice S&P 500 caía 2,66%, a 5.615 pontos, estendendo as perdas de 3,1% na semana passada —o pior desempenho semanal em seis meses. O movimento foi desencadeado por análises de grandes bancos norte-americanos, que abandonaram as então otimistas previsões para o mercado de ações neste ano.
O Nasdaq Composite afunda 4,26%, a 17.430 pontos, a caminho do pior dia de negociações em dois anos e meio. O índice está mais de 13% abaixo do pico de dezembro. Já o Dow Jones perde 2,17%, a 41.873 pontos.
“Este movimento de venda parece feio, desagradável”, disse Drew Pettit, estrategista de ações do Citigroup. “Estávamos saindo de uma onda de otimismo e expectativas de crescimento muito altas. Tudo agora é um recálculo de rota para os novos riscos que estão à frente”, disse ele, referindo-se a preocupações sobre a confiança do consumidor dos EUA e a política comercial agressiva de Trump.
As quedas, que também arrastaram os mercados na Europa e na Ásia, ocorrem depois que o presidente se recusou, no domingo, a descartar uma recessão ou um aumento na inflação, desconsiderando preocupações empresariais sobre a falta de clareza para seus planos tarifários.
As ações dos bancos foram algumas das mais atingidas, com Morgan Stanley, Citigroup e Goldman Sachs caindo mais de 5%. As ações das empresas de investimento privado KKR e Ares caíram 7,5% e 9,5%, respectivamente.
As ações de tecnologia também caíram acentuadamente. A Tesla, cujas ações dispararam após a vitória eleitoral de Trump em novembro, caiu 14%. Agora, perdeu todos os ganhos pós-eleitorais e caiu mais de 50% desde seu pico de dezembro.
A gigante de fabricação de chips Nvidia, que tem sido uma das maiores vencedoras do entusiasmo dos investidores por inteligência artificial nos últimos anos, caiu 5,3%.
“O que estamos vendo hoje é que as pessoas estão vendendo o que possuem”, disse Shep Perkins, diretor de investimentos da Putnam Investments. “E as pessoas possuem muitas empresas relacionadas à IA.”
Na Europa, onde as ações superaram as dos EUA este ano, o índice Stoxx Europe 600 perdeu 1,3%, arrastado por ações de bancos e tecnologia. O Dax da Alemanha, que atingiu uma série de recordes na semana passada após o país concordar com um pacote de gastos histórico, caiu 1,7%.
Os títulos do Tesouro dos EUA subiram, à medida que os investidores procuravam ativos de refúgio seguro. O rendimento de 10 anos, que recua à medida que os preços sobem, caiu 0,09 pontos percentuais para 4,23%.
O índice VIX, conhecido como o medidor de medo de Wall Street, subiu para seu nível mais alto desde meados de dezembro.
Os investidores estão preocupados que a guerra comercial intermitente de Trump esteja prejudicando a economia dos EUA, com os números decepcionantes de empregos de sexta-feira coroando uma série de dados fracos.
Além disso, tarifas retaliatórias da China sobre cerca de US$ 22 bilhões de produtos dos EUA, incluindo exportações agrícolas, entraram em vigor nesta segunda-feira.
No fim de semana, o secretário do Tesouro Scott Bessent ofereceu pouco em termos de tranquilização para investidores preocupados ao reconhecer sinais de fraqueza econômica dos EUA. “Poderíamos estar vendo que esta economia que herdamos está começando a desacelerar um pouco? Claro”, disse ele à CNBC.
Trump e Bessent parecem estar preparados para “alguma dor para reorientar a economia”, disse Jim Reid, do Deutsche Bank. “Tomadas ao pé da letra, essas citações sugerem que o nível de dor é maior do que a maioria teria acreditado há algumas semanas.”
O Goldman Sachs na segunda-feira rebaixou a previsão de crescimento para a economia dos EUA para 1,7%, em comparação com 2,4% no início do ano, à medida que suas suposições de política comercial se tornaram “consideravelmente mais adversas”.
As quedas do mercado de ações nas últimas semanas marcam uma reversão acentuada do clima no final do ano passado e no início deste ano, quando as esperanças de desregulamentação e cortes de impostos sob Trump alimentaram um rali de mercado.
Em vez disso, tarifas sobre produtos de parceiros comerciais como Canadá, México, China e UE levaram os investidores a conter suas apostas e muitos a reduzir o risco.
O S&P pode cair quase 20% de seu nível atual se “o crescimento cair mais significativamente e a recessão se tornar provável”, disse o estrategista-chefe de ações dos EUA do Morgan Stanley, Michael Wilson, em uma nota aos clientes na segunda-feira. “Não estamos lá, mas as coisas podem mudar rapidamente.”
O JPMorgan acredita que o índice pode cair para 5.200 —uma queda de quase 10% dos níveis atuais— devido à “incerteza comercial”, enquanto analistas do Citi acreditam que as consequências das políticas de Trump podem empurrar o S&P para 5.500 pontos. Em dezembro, uma média de 10 bancos globais esperava que o índice subisse cerca de 10% em 2025 para cerca de 6.550 pontos.