Imagine um jogador de roleta. Ele observa a mesa, escolhe o número 7, se anima com a chance de multiplicar por 36 e aposta tudo ali. O problema não está no entusiasmo, mas no detalhe que ele esqueceu: há mais 36 casas além daquela.
É mais ou menos isso que acontece quando o investidor decide aplicar em Bolsa ou em juros apostando exclusivamente na vitória de um candidato específico para as eleições de 2026. De fato, tenho observado a elevação de comentários otimistas em apostas na Bolsa brasileira, fundamentados apenas na vitória de um candidato específico.
Não sou contra nem a favor de qualquer candidato, analiso aqui apenas o raciocínio da aposta. E ele segue uma lógica simplificada: “Se o candidato A vencer, a Bolsa sobe 40%. Logo, compensa investir agora.” Mas falta um detalhe importante: a matemática da incerteza.
A maioria dessas análises assume, mesmo sem dizer, uma probabilidade de 100% daquele cenário acontecer. É como se a eleição estivesse decidida, o desfecho garantido, e o mercado apenas seguisse um roteiro de novela com final anunciado. Só que o mercado é muito mais complexo — e definitivamente não é assim que se calcula risco e retorno.
Vamos melhorar um pouco mais essa conta para se aproxima de como se deve.
Suponha que o candidato A tenha 45% de chance de vencer e, neste caso, a Bolsa suba 40%. Por outro lado, o candidato B tem 55% de chance e, caso ganhe, o mercado caia 5%. O retorno esperado seria de 15,25%. E mesmo assim, estaríamos ignorando boa parte da história.
Este retorno de 15,25% é similar ao retorno esperado para o CDI ou Selic nos próximos 12 meses. Então, eu te pergunto: compensa investir em um ativo de risco para ter um retorno esperado similar a outro ativo de baixo risco?
Investir com base apenas no desfecho eleitoral é como jogar xadrez enxergando só o próximo movimento. Os mercados não reagem só aos fatos, mas às expectativas já precificadas. Se todos já acreditam na vitória de um candidato e se posicionam para isso, o resultado pode até ser positivo e, mesmo assim, provocar queda nas ações. Surpreender o consenso é mais importante do que acertar o resultado.
Além disso, a eleição é apenas uma das variáveis. Há política fiscal, inflação, juros globais, conflito geopolítico, desempenho da China e muito mais. Ignorar essas outras peças no tabuleiro é subestimar o jogo. Investir não é fazer torcida, é pesar os cenários possíveis, atribuir probabilidades e ponderar retornos. Não basta projetar o melhor caso — é preciso se perguntar: e se nada sair como esperado?
O erro mais comum está em superestimar a clareza dos cenários e subestimar a incerteza real. A política costuma dominar os debates, mas o que realmente move os preços é a surpresa, não a expectativa. E não existe surpresa em um cenário que já está no radar de todos. O preço da eleição, em grande parte, já está refletido nos ativos — o que resta é o imprevisível.
O que muitos chamam de coragem, às vezes, é apenas otimismo mal calibrado. Por isso, antes de apostar no 7 da roleta do mercado, pergunte-se: e se cair no 12? ou no 23? A construção de um bom portfólio começa com a aceitação de que o futuro não cabe em um único cenário — e muito menos em uma torcida eleitoral.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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