Você investiria em uma empresa sem controle de caixa, endividada até o pescoço, sem plano de crescimento e com alto risco de falência? Provavelmente não. Mas é exatamente assim que muitas pessoas conduzem sua vida financeira e esperam resultados positivos.
Todo mundo admira empresas bem-sucedidas. Elas inspiram confiança, estabilidade e crescimento. O curioso é que essas qualidades não vêm de sorte ou genialidade: vêm de disciplina. São fruto de decisões consistentes, revisões periódicas e um plano claro. E por que não aplicar os mesmos princípios à sua vida pessoal?
Afinal, sua vida financeira é, sim, uma empresa — com uma receita (seu salário), custos operacionais (despesas do dia a dia), patrimônio (bens e investimentos) e riscos a gerenciar.
O primeiro pilar é o controle de fluxo de caixa. Nenhuma empresa sobrevive sem saber o quanto entra e o quanto sai. No mundo corporativo, isso é monitorado de perto e, às vezes, diariamente. Mas, na vida pessoal, muitos só percebem que extrapolaram o limite quando a fatura do cartão já venceu. Planejamento financeiro começa pelo básico: registrar e analisar suas entradas e saídas. Seu fluxo de caixa não é quanto você ganha, mas quanto sobra no fim do mês.
O segundo pilar é a reserva de liquidez. Pense nas empresas que quebram: muitas não o fazem por prejuízo, mas por falta de caixa para cobrir obrigações no curto prazo. Com pessoas, é igual. A ausência de uma reserva para emergências transforma imprevistos em tragédias. A maioria das empresas não quebra por insolvência, mas por falta de liquidez. O mesmo ocorre com os indivíduos. Quem guarda um colchão financeiro dorme melhor, mesmo quando o mercado resolve tirar o sono de todo mundo.
O terceiro pilar é a gestão sustentável de investimentos e dívidas. Boas empresas usam financiamento com critério, para expandir ou inovar, nunca para tapar buraco. Na vida pessoal, não é diferente. Tomar um empréstimo para antecipar um carro pode até ser razoável, se ele for necessário. Mas vender investimentos bem alocados para comprar um passivo é como queimar o estoque da empresa para fazer promoção. Imagine alguém com R$ 500 mil investidos e que decide usar tudo para comprar um imóvel novo, sem manter liquidez. E se surgir uma emergência? Planejamento é entender que é melhor ter parcela e reserva do que não ter nenhum dos dois.
O quarto pilar é o controle de riscos. Empresas possuem seguros, planos de contingência, conselhos fiscais. Empresas prudentes possuem seguros de lucros cessantes, seguros sobre maquinários, sobre seus funcionários, de responsabilidade civil, sobre seu prédio mesmo que alugado e outros. E sua vida financeira? Você tem seguros adequados? Um plano sucessório? Uma estratégia para proteger quem depende de você? Ou está contando com a sorte? Ignorar esses pontos é como gerir uma empresa sem pensar em continuidade. E toda empresa madura sabe que não basta crescer: é preciso proteger o que já foi conquistado.
Planejar a vida financeira é muito mais do que acompanhar extrato bancário ou se ganhou do CDI neste mês. É tomar as rédeas como um verdadeiro CEO do seu patrimônio. Muitos sonham em ser como as grandes empresas, mas poucos estão dispostos a adotar os hábitos que as fazem prosperar. A diferença entre amadorismo e excelência está na disciplina — e ela está ao seu alcance.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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