A governo Trump elabora uma medida para permitir o armazenamento de metais encontrados no leito do Oceano Pacífico, em um esforço para enfrentar o domínio da China sobre minerais de terras raras usados em baterias e outras cadeias de suprimento, segundo interlocutores a par do assunto.
Os nódulos do tamanho de batatas que se formam no fundo do mar sob alta pressão ao longo de milhões de anos contêm níquel, cobalto, cobre e manganês usados em baterias, fiação elétrica ou munições, além de traços de minerais de terras raras. Eles poderiam ser adicionados aos estoques federais existentes de petróleo bruto e outros metais.
Os EUA buscam se tornar autossuficientes nesses minerais críticos. O governo Trump pressionou a Ucrânia a aceitar um acordo de minerais, ameaçou tomar a Groenlândia e anexar o Canadá, e anunciou medidas para aumentar a produção doméstica.
Alexander Gray, especialista em Ásia que foi chefe de gabinete do conselheiro de segurança nacional dos EUA no primeiro governo Trump, disse que faria sentido para a Casa Branca focar na mineração em águas profundas, já que a China cada vez mais vê o fundo do mar como “uma linha de frente na competição econômica e militar com os EUA”.
“Como o governo Trump fez com a construção naval e minerais críticos de forma mais ampla, catalisar o foco do governo dos EUA nas áreas de maior vulnerabilidade às ambições da China é essencial”, disse Gray.
Uma reserva estratégica de nódulos polimetálicos do leito do mar ajudaria os EUA a alcançar a China na corrida global para explorar o fundo do Pacífico, rico em recursos.
Pequim, na semana passada, impôs restrições à exportação de alguns elementos de terras raras em sua última tentativa de usar os metais como uma forma de coerção econômica.
O estoque está sendo considerado como parte de um esforço mais amplo para acelerar as aplicações de mineração em águas profundas sob a lei dos EUA, e para criar capacidade de processamento em terra para os nódulos, disseram os interlocutores.
Republicanos influentes, incluindo o secretário de Estado Marco Rubio e o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz, têm sido fortes defensores quando serviram no Congresso. O projeto de lei anual do orçamento de defesa do ano passado instruiu o departamento a conduzir um estudo de viabilidade sobre como os nódulos poderiam ser refinados para aplicações de defesa.
Segundo os planos, o estoque criaria grandes quantidades prontas e disponíveis no território dos EUA para serem usadas no futuro, em caso de um conflito com a China que restringisse as importações de metais e terras raras, disse um interlocutor.
Apesar do entusiasmo entre os principais republicanos para explorar o fundo do mar, os EUA continuaram sob Trump ausentes das negociações internacionais sobre mineração no leito do mar. O país não ratificou o tratado que estabeleceu o quadro legal para essas atividades, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar de 1982.
As negociações na Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) na Jamaica no mês passado terminaram sem um aval para a mineração em águas internacionais, já que dezenas de países continuam a pedir uma moratória sobre a prática.
Os opositores argumentam que a mineração poderia prejudicar as formas de vida pouco compreendidas que vivem a milhares de metros abaixo da superfície, incluindo corais e polvos brancos. Eles também questionam se a indústria poderia algum dia recriar a extensa cadeia de suprimento de minerais críticos da China e competir com o baixo preço do níquel indonésio.
A Metals Company, uma líder de mercado com sede em Vancouver, disse durante as negociações que sua subsidiária nos EUA havia iniciado um processo supervisionado pelo Departamento de Comércio dos EUA para solicitar permissões para explorar e minerar águas internacionais sob uma lei dos EUA de 1980.
O CEO da TMC, Gerard Barron, disse ao Financial Times que a ISA não tinha um “mandato exclusivo” para regular a mineração em águas internacionais.
“Você não pode dar direitos a algo sobre o qual não tem jurisdição, de acordo com um tratado do qual não faz parte”, contrapôs Jose Fernandez, um importante enviado econômico do ex-presidente Joe Biden, com foco na segurança de minerais. “Então, o advogado em mim diz que as empresas vão querer ter cuidado ao prosseguir sem uma permissão da ISA.”
O departamento de comércio dos EUA não respondeu a um pedido de comentário. O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca se recusou a comentar.