O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a defender a necessidade de um ajuste nas contas públicas e disse que essa será a bandeira de uma candidatura presidencial apoiada por Jair Bolsonaro —embora tenha voltado a afirmar que não será ele que entrará nessa disputa.
“O Brasil é um país que tem excelentes fundamentos, mas que está perdendo upsides [potencial de valorização]. Está gastando muito, tem uma irresponsabilidade fiscal. Agora, você mexe duas, três, quatro alavancas, você bota a coisa no eixo de novo e aí você dá o salto”, disse Tarcísio em evento do Bradesco BBI, em São Paulo, nesta terça-feira (8).
Entre os pontos positivos do Brasil para investidores, o governador paulista mencionou o superávit na balança comercial, uma robusta reserva internacional de dólares e as reformas econômicas conduzidas nos últimos anos.
Como alavancas para o ajuste fiscal, ele citou a reforma administrativa, cortes de despesas de pessoal e demais custos, desindexação dos gastos e desvinculação de receita, desregulamentação, revisão de benefícios, e reforma orçamentária.
“Você impõe uma reforma orçamentária, constrói uma reforma orçamentária, e vai ter todos os elementos para dar o salto. Para melhorar a qualidade do gasto, para investir naquilo que é estruturante, para aumentar a sua potência em termos de realização de investimento e aumentar a capacidade do Estado de fazer investimento, e também disseminar essa relação entre poderes e deixar a coisa mais equilibrada. Vejo isso como perfeitamente possível”, afirmou Tarcísio.
Para o governador, as emendas parlamentares que guiam o Congresso não seriam um obstáculo para estas reformas.
“Temos um problema, de fato. Muito poder foi transferido para o Congresso por meio do orçamento. Qual é a solução para isso? É demandar ao Congresso. Porque o próprio parlamentar vai perceber que precisa contribuir. Então, se você convoca o Congresso, precisando de um esforço fiscal, o Congresso vai responder. Vou cortar gastos, mas nós vamos também mudar a lógica da emenda O Congresso vai topar”, disse Tarcísio.
Ao afirmar que a responsabilidade fiscal seria bandeira eleitoral na próxima campanha, Tarcísio negou que pretenda se candidatar a presidente em 2026: “A nossa missão é contribuir com a agenda de Brasil, contribuir com uma candidatura de centro-direita, seja do Bolsonaro, seja de quem ele indicar. Nós vamos focar em São Paulo, continuar querendo fazer a diferença porque é um estado que me abraçou.”
Para Tarcísio, não há um problema em a direita ter, atualmente, vários pré-candidatos a presidência, como os governadores de Goiás e Paraná, Ronaldo Caiado (UB), Ratinho Junior (PSD), respectivamente.
“O evento neste final de semana, onde você tinha vários governadores sempre reunidos, mostra bem qual é o espírito. Aglutinar essa turma numa grande aliança democrática para fazer a diferença, para oferecer o país no projeto, é algo factível, é algo viável”, afirmou o governador de São Paulo, em referência ao ato pró-anistia do último domingo (6).
Segundo Tarcísio, a escolha do nome depende do ex-presidente. “Nós temos uma grande liderança na direita, que é o Bolsonaro, que tem essa capacidade de mobilizar e juntar essas forças. Esse arranjo vai passar por ele.”
Com relação às parcerias do governo paulista com o governo federal, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Tarcísio disse que o interesse público fala mais alto que as divergências políticas.
“Precisamos deixar oposição de lado quando é pelo interesse público. Ontem, anunciamos mais uma parceria para a construção do maior programa de habitação de São Paulo. Estamos buscando parceria com o governo federal buscando o interesse do cidadão.”
Na segunda (7), o governador recebeu o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), para assinar o projeto em um evento, realizado na sede do governo paulista, que não teve presença de representantes bolsonaristas da base de Tarcísio, mas contou com integrantes da oposição, como o deputado estadual Simão Pedro (PT), com quem o governador trocou abraços ao fim do encontro.
A parceria prevê que o governo estadual destine até R$ 36 mil por apartamento construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida. Técnicos justificaram a medida afirmando que o valor do programa, vitrine do governo Lula, é insuficiente para viabilizar moradias em São Paulo. Para quem ganha até dois salários mínimos, o teto de financiamento é de R$ 170 mil —abaixo dos preços mínimos no mercado paulista.
Em seu discurso, Jader Filho elogiou a iniciativa de Tarcísio de firmar a parceria com um governo adversário. Depois, ao falar com jornalistas, disse que o evento “mostra exatamente que o pacto federativo deve ser fortalecido”.
“A orientação do presidente Lula é trabalhar com estados e municípios, e foi exatamente isso que fizemos”, afirmou o ministro.