Donald Trump surpreendeu os investidores globais nesta quarta-feira (9) ao anunciar uma pausa de 90 dias na imposição de tarifas de comércio, o que fez as bolsas dispararem, enquanto o presidente recuava de uma escalada total na guerra comercial.
Os índices de Wall Street reagiram imediatamente: o S&P 500, referência das ações americanas, fechou em alta de 9,5%, enquanto o Nasdaq Composite saltou mais de 12%. Foi o melhor dia do S&P 500 desde 2008 e o maior ganho do Nasdaq desde 2001.
O forte rali adicionou cerca de US$ 4,3 trilhões ao valor de mercado do S&P 500, segundo cálculos do Financial Times com base em dados da FactSet. Os ganhos compensaram parte das perdas acumuladas desde que Trump anunciou um pacote abrangente de tarifas há uma semana.
No entanto, o presidente manteve a pressão sobre a China, aumentando para 125% as tarifas sobre o país asiático, aprofundando o impasse comercial com a segunda maior economia do mundo.
Em publicação na rede Truth Social, Trump afirmou: “Com base no fato de que mais de 75 países entraram em contato… para negociar uma solução… e que esses países, por minha forte recomendação, não retaliaram de nenhuma forma contra os Estados Unidos, autorizei uma pausa de 90 dias e uma Tarifa Recíproca substancialmente reduzida, de 10%, com efeito imediato.”
Mas Trump também acusou a China de demonstrar uma “falta de respeito” ao retaliar. “Estou, portanto, aumentando imediatamente a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos para 125%”, declarou.
O recuo surpreendente do presidente ocorreu após uma semana de turbulência nos mercados globais, que registraram perdas de trilhões de dólares em ações, forte venda de títulos do Tesouro americano e queda acentuada nos preços do petróleo, que voltaram a níveis vistos durante a pandemia de Covid-19.
“Isso é a capitulação de Trump aos mercados”, disse Andy Brenner, da NatAlliance Securities. “Ele conseguiu salvar as aparências mantendo as tarifas sobre a China.”
A forte venda de títulos do governo dos EUA, considerados a base do sistema financeiro global, diminuiu após a guinada de Trump e uma bem-sucedida emissão do Tesouro, que sinalizou demanda robusta por parte de investidores internacionais. O rendimento do título de 10 anos, que chegou a subir 0,24 ponto percentual no dia, encerrou o pregão de Nova York com alta de 0,08 ponto, a 4,35%.
Empresas que haviam sofrido grandes perdas nos dias anteriores também tiveram fortes ganhos nesta quarta. Apple, Nvidia, Microsoft, Amazon, Meta e Tesla subiram ao menos 10% após o anúncio de Trump.
O secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que o “mundo está pronto” para trabalhar com Trump na “reforma do comércio global”, mas descartou a China, dizendo que o país “escolheu o caminho oposto”.
Lutnick escreveu na rede X (antigo Twitter) que ele e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, “estavam com o presidente enquanto ele escrevia uma das publicações mais extraordinárias de sua Presidência”.
Mais tarde, Trump reconheceu o clima de apreensão nos mercados provocado por sua guerra comercial.
“Bem, achei que algumas pessoas estavam exagerando. Ficaram muito agitadas, sabe? Estavam… um pouco assustadas”, disse ele a jornalistas.
O presidente afirmou que a disparada do mercado após o recuo em grande parte das tarifas tornou esta “o maior dia da história financeira”.
Bancos de Wall Street haviam alertado que as tarifas levariam a economia dos EUA à recessão, com aumento da inflação e do desemprego.
Momentos antes do anúncio de Trump, o Goldman Sachs previa uma recessão provocada pela guerra comercial. Duas horas depois, o banco reverteu a projeção.
Ainda assim, economistas e investidores alertaram que as tarifas remanescentes, incluindo um imposto geral de 10% sobre a maioria das importações, continuarão a pesar sobre o crescimento e pressionar os preços.
“A suspensão das tarifas recíprocas, com exceção da China, não significa que a economia americana escapará de uma desaceleração e de uma alta da inflação”, afirmou o Citigroup. “A incerteza comercial vai continuar, e as importações de fora da China podem disparar, prejudicando o crescimento no segundo trimestre.”
O recuo de Trump abre caminho para uma fase de múltiplas rodadas paralelas de negociação comercial entre os EUA e seus principais parceiros, nas próximas semanas, em busca de uma solução para as tensões comerciais.
Na terça-feira, Bessent anunciou que lideraria as conversas com o Japão, ao lado do principal negociador comercial de Trump, Jamieson Greer, na tentativa de fechar um acordo que possa levar à redução das tarifas.
O anúncio veio após dias de mensagens contraditórias por parte do governo sobre a duração das tarifas e a disposição dos EUA para negociar com seus parceiros comerciais.
Greer estava prestando depoimento no comitê de meios e recursos da Câmara dos Representantes quando Trump anunciou a pausa.
“Mas que diabos, quem está no comando?”, gritou o deputado democrata Steven Horsford, de Nevada, a Greer logo após o anúncio.
Horsford perguntou se Greer sabia da decisão de Trump. O negociador respondeu que a proposta estava “em discussão”.