Mais antiga cidade do litoral norte paulista, com 388 anos, São Sebastião é a única brasileira a integrar um recente ranking de destinos subestimados no mundo. Elaborada pela revista inglesa Time Out, especializada em turismo global, a lista traz 24 locais “fora do óbvio”: menos lotados, mais em conta e “igualmente bons”, segundo a publicação.
Atingida pelos temporais que arrastaram casas, lojas, derrubou morros e deixou 64 mortos em fevereiro de 2023, São Sebastião ficou em terceiro lugar. As duas primeiras são Filândia (povoado colombiano de fachadas coloridas e muito café) e o sul da Tunísia, no norte da África (com destaque para o município de Douz, porta de entrada do deserto do Saara).
“São Sebastião apresenta uma sequência de praias incrivelmente perfeitas”, destaca a revista, “mas que raramente aparecem nas listas das melhores”. A publicação cita nominalmente as de Maresias, Juquehy, Barra do Sahy e Boiçucanga. “A maioria dos lugares do nosso ranking realmente deseja visitantes”, diz a revista.
“Estão enxergando mais a gente lá fora, e nós estamos esperando os turistas ansiosamente. Estamos até contratando uma agência de marketing para ampliar nossa divulgação no exterior”, disse o prefeito Reinaldinho Moreira (Republicanos), após a publicação. “São Sebastião não é subestimada porque tem pouca coisa, mas por ter muita coisa que nem todo mundo conhece.”
Segundo estimativas da própria prefeitura, São Sebastião espera receber 1,5 milhão de turistas durante todo o verão —mesma performance de 2024. Só o Carnaval, que terá cinco dias de festa, representa 30% desse total.
“Definitivamente, não somos só a praia do Gabriel Medina”, afirma o prefeito, em referência ao tricampeão campeão mundial de surfe e medalhista olímpico nascido na cidade em 1993. A “praia do Medina”, onde a família tem casas, é a badalada Maresias.
Além das ondas, Maresias oferece boa infraestrutura de hotéis, bares e restaurantes ao longo de seus 5 km, além de passeios de barco e trilhas —como a que leva à vizinha praia de Paúba.
Com apenas 450 metros, Paúba serve de contraponto à agitação de Maresias, além da particularidade de contar com um rio ao lado do mar. De um de seus mirantes é possível observar o arquipélago de Alcatrazes —paraíso do ecoturismo formado por 13 ilhas a 40 km da costa.
O local, que tem esse nome em referência ao pássaro comum na região, o alcatraz, já recebeu treinamentos militares na década de 1980 e era restrito a pesquisadores, até ser aberto a visitações monitoradas a partir de 2020.
Juquehy, Barra do Sahy e Boiçucanga têm características próprias. A primeira rivaliza com Maresias como a mais movimentada, mas com menos comércio. Sahy é uma praia tranquila cercada por amendoeiras que garantem sombra nos dias mais quentes. E Boiçucanga tem de pousadas rústicas a resorts de luxo, além de um entardecer espetacular.
Destaques e incômodos
A 190 km da capital, São Sebastião tem pouco mais de 81 mil habitantes e 53 praias. Tem opções de turismo de aventura, avistamento de baleias, cachoeiras e aldeias indígenas, além de um charmoso centro histórico colonial.
“É uma das regiões mais encantadoras da costa brasileira”, afirma Dimas Moura, 67, dono de agência de viagens e do canal Mais 50 no YouTube, que mapeia as melhores cidades para viver no Brasil. “É uma cidade bem cuidada e sinalizada. Os preços para morar variam, mas é possível encontrar opções econômicas pelo centro”.
Moradora e empreendedora, Alexandra Dias, 53, não está arrependida de ter aberto dois restaurantes em São Sebastião em apenas dois anos. Um deles, o Viela Gourmet, tem perfil popular e funciona desde 2022 na rua da Praia, no centro. Já o Salino, de alto padrão, foi inaugurado na virada do ano na Marina Igararecê, ao lado da praia do Arrastão.
“Aqui tudo funciona e as praias são seguras”, conta. “Meu maior problema é conseguir mão de obra. Aposentados são a maioria. Eles não aquecem o mercado de trabalho, aquecem o consumo.”
Para a estudante e turista Yasmin Freitas, 24, os desafios são outros. “Escapar dos mosquitos, que são muitos. O calor atrapalha o sono e, na alta temporada, o trânsito fica difícil”, diz. Mesmo assim, recomenda: “Tem opções gratuitas de esporte, lazer e cultura. A cidade é receptiva e a beleza, inegável”.