Ainda rouco pelas comemorações do título do Campeonato Gaúcho de 2025 após um hiato de nove anos, o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, afirma que a conquista teve um sabor especial por ser a primeira desde que assumiu o cargo, em 2021, e em cima do rival Grêmio.
O triunfo da equipe colorada impediu que os tricolores alcançassem o oitavo troféu estadual consecutivo, mantendo o Internacional como o único octacampeão gaúcho, entre 1969 e 1976.
“Chegar numa final de um Campeonato Gaúcho extremamente disputado, ser campeão invicto e evitar um feito histórico do nosso adversário, que só o Inter tem. Isso deu uma pimenta a mais nesse molho”, afirma Barcellos à Folha.
Inter e Grêmio são, de longe, os maiores vencedores do estadual, com, respectivamente, 46 e 43 taças. O Brasil de Pelotas, o Guarany e o Cruzeiro aparecem em seguida no ranking, com dois títulos cada um.
Sem receio de ter esse domínio ameaçado, o dirigente diz ver com bons olhos a possibilidade de equipes uruguaias disputarem o estadual do Rio Grande do Sul.
A ideia surgiu a partir de uma provocação vinda do presidente do Peñarol, Ignacio Ruglio.
Embora reconheça que, juridicamente, a empreitada pode encontrar obstáculos, Barcellos defende que novas configurações para os tradicionais estaduais podem contribuir para melhorar o espetáculo, atrair mais público, além de movimentar a economia e o turismo da região.
“Tenho formação na área de inovação, pesquisa e desenvolvimento. E aprendi uma coisa importante: as empresas no mundo inteiro investem milhões em novas ideias. Muitas delas acabam não dando em nada, mas poucas delas viram negócios extremamente atraentes, produtos novos. A gente tem que pensar um pouco fora da caixa”, diz Barcellos.
“A provocação do Peñarol talvez seja muito difícil de viabilizar. Mas é uma provocação interessante, na medida em que são dois dos grandes clubes do Uruguai, a cerca de 600, 700 quilômetros do Rio Grande do Sul. Pensar em algo conjunto não é absurdo. É algo que a gente tem que avaliar”, acrescenta o dirigente.
Barcellos diz que, na conversa com o presidente do Peñarol durante o sorteio da fase de grupos da Copa Libertadores, o cartola uruguaio disse que já havia procurado o Nacional e a AUF (Associação Uruguaia de Futebol), e teria recebido o aval para seguir com a empreitada.
“Eu disse que via como uma iniciativa interessante, mas que havia alguns desafios a serem superados e que aguardava uma formalização, algo mais concreto”, contou.
Segundo o cartola, um interlocutor do governo do Rio Grande do Sul também fez uma sinalização positiva pelo potencial econômico e turístico que a proposta poderia trazer ao estado.
A FGF (Federação Gaúcha de Futebol) disse que, até agora, não foi procurada para tratar do assunto. “Ainda que isso seja muito interessante e mostre a força e a importância do futebol gaúcho no cenário internacional, é uma questão muito complexa e difícil de acontecer”, diz a federação.
De acordo com a FGF, o primeiro passo seria os clubes uruguaios se desfilarem da AUF. Depois, precisariam se regularizar no Brasil, com o processo de filiação junto à FGF e à CBF. Somente após esses trâmites, os times uruguaios poderiam iniciar sua jornada no Gaúchão, mas com a disputa da Série B, até que fossem conquistando vagas à Série A2 e, depois, à Série A1.
“O futebol gaúcho estará sempre de portas abertas para receber os clubes uruguaios para disputa de torneios de integração ou preparação com os clubes do Rio Grande do Sul”, assinala a federação.
Por enquanto, o confronto entre os clubes brasileiros e uruguaios irá acontecer pela Copa Libertadores e pela Copa Sul-Americana.
O Inter está no Grupo F da Libertadores, ao lado do próprio Nacional, além de Bahia e Atlético Nacional-COL. O Peñarol está no Grupo H, com Olimpia-PAR, Vélez-ARG e San Antonio-BOL.
Racismo
O presidente do Inter também cobrou punições mais duras da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) para coibir casos de racismo em partidas na América do Sul.
“Estamos tendo sucessivos eventos dessa natureza e acho que isso fica cada vez mais perigoso no futebol”, afirma o cartola. “As punições têm de ser mais rígidas, não podemos compactuar com isso ou aceitar de uma forma natural.”
A sugestão da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, de trocar a Conmebol pela Concacaf, no entanto, é vista com ressalvas.
“Migrar de filiação e não enfrentar o problema de frente é pior. Temos que enfrentar o problema e pensar em uma forma de nos unirmos. Não só os clubes brasileiros, gostaria que todos os clubes da América do Sul tivessem uma postura conjunta para que pudéssemos banir o racismo no futebol”, afirma o dirigente.
Presidente do Inter declara apoio à reeleição de Ednaldo na CBF
Alessandro Barcellos também faz parte do grupo que apoio a reeleição do atual presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, com o compromisso assumido pelo atual mandatário de apoiar a criação de uma liga nacional dos clubes.
No cargo desde 2021, primeiro de maneira interina após o afastamento do antecessor Rogério Caboclo, e eleito em 2022, Ednaldo foi reeleito na segunda-feira (24) por unanimidade, com votos das 27 federações estaduais e dos 40 clubes das Séries A e B.
O ex-atacante Ronaldo chegou a anunciar sua candidatura, mas desistiu após não encontrar apoio.
“Ainda há muita coisa a melhorar, mas olhando o processo todo que antecede a eleição, percebemos certa incapacidade de articulações que pudessem trazer um norte, um rumo totalmente diferente. O presidente Ednaldo vem mantendo uma interlocução com os clubes, com as federações. É um presidente bastante acessível”, diz o dirigente colorado.