A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo está se intensificando rapidamente e há pouco para impedir esse embate.
A escalada aumentou depois que o presidente dos EUA anunciou na última quarta-feira (2) que os produtos chineses seriam atingidos com uma tarifa de 34%, além dos 20% já impostos. Diante disso, Pequim prometeu igualar o jogo e aplicar tarifas de 34% em produtos americanos. Com a medida, importações americanas podem atingir taxas de 70% na China.
Nesta terça-feira (8), autoridades chinesas prometeram “lutar até o fim” diante de novas ameaças de Donald Trump de taxar os asiáticos em 50%, o que foi confirmado horas mais tarde pela Casa Branca. Com isso, os produtos chineses podem receber uma tarifa de até 104% para entrarem nos EUA, a partir desta quarta (9).
Em sua rede social, Trump havia dito que todas as negociações com a China seriam encerradas se o país impusesse tarifas de 34% contra os EUA.
Até a recente escalada, as tarifas de Trump sobre a China haviam sido recebidas com uma resposta rápida, mas amena. Autoridades chinesas chamaram as medidas de “um erro atrás do outro” e não descartaram dialogar. Mas a retaliação da China, no entanto, provavelmente acaba com essa possibilidade.
Embora as intenções de Trump ao iniciar uma das maiores perturbações no comércio da história moderna não estejam totalmente claras, ele parece menos interessado em fechar um acordo com a China do que nunca.
As autoridades chinesas estavam ansiosas para mostrar que não seriam intimidadas. Ao mesmo tempo, estavam satisfeitas em escolher suas batalhas, de modo a diminuir prejuízos e evitar uma escalada maior. Isso permitiria negociações mais fáceis quando chegasse a hora —um cálculo que agora parece ter sido descartado.
Uma razão para a mudança pode ser a sensação entre os líderes da China de que eles poderiam vencer a guerra comercial. Trump está exigindo muito de seu rival geopolítico. Ele quer que os chineses acabem com o fluxo de fentanil e ajudem a por um fim na guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
O presidente americano também revelou que não quer ser responsável por fechar o TikTok, aplicativo chinês de vídeos curtos e muito popular entre os jovens americanos.
A Tesla, empresa de veículos elétricos de Elon Musk, conselheiro de Trump, é vulnerável a retaliações, já que faz cerca de um quinto de seus negócios na China.
As autoridades chinesas também podem acreditar que os Estados Unidos serão incapazes de suportar a inflação e o descontentamento econômico causados pelas tarifas de Trump.
Em vez de “lutar até o fim”, eles podem apenas precisar lutar até que os preços ao consumidor americano comecem a subir ou o emprego comece a cair. Conselheiros seniores, pesquisadores do governo e economistas apontam isso como a maneira mais fácil fazer Trump negociar
Alguns falam em encontrar maneiras de intensificar a situação, talvez fortalecendo o yuan. Isso seria uma grande aposta. Quando a inflação aumentasse na América, a indústria e as cadeias de suprimentos chinesas estariam sofrendo.
Uma guerra comercial significa que Xi Jinping precisará fazer mais para sustentar a economia da China. O choque potencial está sendo comparado à crise financeira global que ocorreu entre 2007 e 2009, que gerou um pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans (US$ 590 bilhões).
Li Qiang, vice de Xi, disse em março que o país estava se preparando para “choques externos maiores do que o esperado” e que estava disposto a implementar políticas para garantir a estabilidade econômica. Ainda não está claro o que isso significa na prática.
O Diário do Povo, um jornal estatal chinês, disse no último domingo (6) que cortes nas taxas de juros e nas proporções de reservas bancárias poderiam ocorrer a qualquer momento. O jornal também disse que os governos locais ajudarão exportadores em dificuldades a encontrar novas fontes de demanda em casa e em mercados não americanos.
A Soochow Securities, uma corretora chinesa, sugeriu que a China poderia reduzir tarifas para o resto do mundo, enquanto aumenta os subsídios à exportação.
À medida que os mercados ao redor do mundo cambalearam, a China foi rápida em intensificar o apoio. Na segunda e na terça, empresas estatais entraram no mercado chinês para comprar ações. Com isso, o índice CSI 300 do mercado de ações de Xangai subiu 1,7% nesta terça (8).
Economistas temem que o estímulo para a economia real chegue muito mais lentamente, com quaisquer intervenções sendo fragmentadas e reativas por natureza, e se materializando apenas após uma desaceleração acentuada. Segundo Larry Hu do banco Macquarie, as coisas vão piorar antes de melhorar.
Xi também precisará considerar se está disposto a ver a economia da China se separar totalmente da dos Estados Unidos. Embora a China esteja buscando a autossuficiência tecnológica, rejeitou amplamente a noção de separação, vendo-a como uma maneira do Ocidente punir a China. Agora, no entanto, há um apoio crescente para isso.
Uma lista curta de respostas planejadas, postada online por vários comentaristas bem conectados nesta terça, sugere que a China está considerando a suspensão de toda cooperação com os Estados Unidos sobre o fentanil.
Outra ideia é proibir importações de aves americanas e outros produtos agrícolas, como soja e sorgo, que vêm principalmente de estados republicanos.
A China pode impor restrições aos serviços americanos também, onde os EUA ainda mantém um superávit comercial. Isso incluiria restrições a consultorias e escritórios de advocacia americanos ainda operando no país.
Também poderia investigar a PI (propriedade intelectual) detida por empresas americanas. Essas posses de PI podem constituir monopólios e gerar lucros excessivos, segundo um blogueiro influente, que continua dizendo que o sucesso da China com um filme de animação, chamado “Ne Zha 2”, e o fraco desempenho de “Branca de Neve” na América, poderiam ajudar a justificar a redução das importações de filmes americanos ou bani-los completamente.
Se “lutar até o fim” significa igualar quaisquer novas tarifas americanas, Xi terá que morder a maçã do divórcio.
Texto do The Economist, traduzido por Vitor Hugo Batista, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com