A Polícia Civil de Goiás iniciou na manhã desta quarta-feira (9), em seis estados, a Operação Jogada Marcada para cumprir 16 medidas judiciais, entre mandados de prisão e de busca e apreensão, contra organização criminosa especializada na manipulação de resultados em partidas de futebol.
De acordo com a polícia, as fraudes já movimentaram ao menos R$ 11 milhões ilicitamente obtidos, inclusive por meio de plataformas de apostas.
A investigação delineou a estrutura hierárquica do grupo, que possui financiadores, intermediários e executores, envolvendo jogadores, treinadores e dirigentes de clubes alvos da operação.
Seis pessoas foram presas na operação desta quarta-feira, entre eles o ex-presidente do Crato, Ivan Barros, o ex-árbitro da Federação Paraibana, D’Guerro Batista Xavier, além de dois aliciadores e dois ex-jogadores nos estados do Espírito Santo, Maranhão e Pernambuco.
Procurado, o clube não respondeu até a publicação da matéria. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Xavier.
Segundo o delegado Eduardo Gomes, responsável pelo caso, a participação do Crato no esquema de manipulação aconteceu no estadual de 2022, quando a equipe perdeu as quatro partidas que disputou.
O clube acabou excluído do Cearense naquele ano por decisão do TJDF-CE (Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Estado do Ceará) por já ter sido identificada a suspeita de manipulação de resultados.
Já o ex-árbitro D’Guerro Batista Xavier foi preso pela Polícia Civil da Paraíba, por meio da DDF (Delegacia de Defraudações e Falsificações), “por envolvimento em esquema de manipulação de resultados, especialmente em partidas da Série B do Campeonato Brasileiro.”
De acordo com a polícia, “o suspeito já havia sido alvo da Operação Cartola, desencadeada pela própria DDF em 2018, e desde então se encontrava afastado das atividades de arbitragem profissional. De acordo com as investigações em andamento, o suspeito estaria atuando no aliciamento de árbitros e orientando-os sobre como conduzir os jogos de forma a beneficiar os interesses do grupo criminoso envolvido no esquema.”
Gomes afirmou que a investigação que culminou na operação desta quarta-feira teve início apenas em meados de 2023, após denúncia apresentada pelo presidente do Goianésia Esporte Clube, Marco Antônio Maia, que também é delegado da Polícia Civil.
Na denúncia, o dirigente afirmou ter recebido de um aliciador proposta para que, mediante o pagamento de determinada quantia em dinheiro, ele conseguisse manipular pelo menos cinco resultados da equipe no Campeonato Goiano.
“O aliciador queria fazer um investimento no time. Porém, o time tinha a obrigação de, em qualquer momento do campeonato, ceder para essa pessoa cinco resultados. Através desses resultados que ele escolheria, faria as apostas e teria o retorno do investimento despendido”, afirmou Gomes em entrevista a jornalistas.
Em 2023, o Goianésia terminou em 9º na primeira divisão do estadual, fora da zona de classificação para o mata-mata. Vice-campeão goiano em 2020, o clube disputa neste ano a Série D do Campeonato Brasileiro.
Além da proposta para manipular resultados do Goianésia, o criminoso teria sugerido ao presidente do clube que tentasse também interferir no placar de partidas de outros clubes do estado.
“Na época [da denúncia], ia começar a Série B do Campeonato Brasileiro, e a intenção desse aliciador era que esse presidente conseguisse contato e oferecesse essa quantia para um dos times do estado de Goiás que iam participar do torneio”, afirmou o delegado.
Atlético Goianiense e Vila Nova foram os times de Goiás que jogaram a Série B naquele ano. Terminaram a competição em 4º (conseguindo o acesso à Série A em 2024) e 8º, respectivamente.
“Sabíamos que, se estavam fazendo essa proposta, era possível que ela fosse feita para outras pessoas. Então, não nos contentamos só em identificar e responsabilizá-la por esse único crime, mas tentar identificar uma rede criminosa que poderia estar envolvida tanto no nosso estado, quanto em outros estados brasileiros”, afirmou o delegado do caso.
Ele disse que a investigação identificou partidas suspeitas que aconteceram no estado do Rio de Janeiro, em torneios da categoria sub-20.
“Além disso, já temos comprovado contato de um dos investigados, que transferiu dinheiro para um jogador que atua atualmente na Europa”, afirmou Gomes.
O delegado disse também que a operação não tem nenhuma relação com a Operação Penalidade Máxima, que apura a conduta de grupo criminoso que visava aliciar jogadores profissionais com oferta de valores financeiros para a realização de eventos como punições com cartões e cometimento de pênalti ou placar parcial na partida. A prática também viabilizava aos seus integrantes obter lucros em sites de apostas esportivas.