O peso argentino se desvalorizou frente ao dólar e os títulos soberanos da Argentina subiram nesta segunda-feira (14) depois que o país fechou um programa de empréstimo de US$ 20 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e desfez grande parte de seus controles cambiais e de capital na última sexta-feira (11).
No fim da tarde, a moeda era cotada a 1.230 pesos argentinos por dólar. Na prática, isso representa uma desvalorização de 12,1% ante os 1.097 pesos cotados na sexta-feira. Ao mesmo tempo, o dólar blue (paralelo) era cotado a 1.280 pesos, reduzindo a chamada “brecha cambiária”.
Os títulos internacionais do país, por sua vez, se recuperavam, com alguns vencimentos ganhando mais de 4 centavos de dólar, de acordo com dados da MarketAxess. Já as ações das empresas argentinas no exterior subiam com força.
A queda da moeda argentina ocorreu depois que o banco central do país desfez seu chamado “crawling peg” e mudou para uma faixa de negociação muito mais ampla, de 1.000 a 1.400 pesos por dólar, permitindo que a moeda flutue livremente dentro dessa faixa. A autoridade monetária poderá intervir para manter a cotação entre as duas bandas e os limites serão atualizados em 1% ao mês.
Após seis anos de restrição, o governo argentino também anunciou na semana passada o fim do chamado “cepo cambiário”, o controle para a compra de dólares no mercado oficial para pessoas físicas.
A partir desta segunda-feira, as pessoas físicas, que antes só podiam comprar até US$ 200 (R$ 1.168) por mês, agora podem adquirir uma quantidade ilimitada de dólares por meio de operações bancárias, e um máximo de US$ 100 (R$ 584) em dinheiro vivo.
“Não existe mais o dólar oficial, há um dólar único, que é o de mercado”, comemorou Milei em declarações à Rádio El Observador, ao lembrar que a eliminação dos controles cambiários foi uma promessa de campanha.
“Esperamos uma reação positiva do mercado aos anúncios feitos na sexta-feira”, disse o Goldman Sachs em uma nota no domingo, acrescentando que a nova taxa de câmbio flutuante “superou nossas expectativas”.
“Isso pode contribuir positivamente para a sustentabilidade de médio prazo do programa de ajuste macroeconômico que está sendo implementado na Argentina”, acrescentou.
A implantação do novo esquema coincide com a visita do secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que terá uma reunião com o presidente Javier Milei.
O apoio do FMI é visto como um estímulo à confiança geral e a remoção dos controles pode ajudar a estimular o investimento.
Na última terça-feira (8), o governo argentino conseguiu um apoio do FMI, que concederá um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 116,8 bilhões, na cotação atualizada), com um primeiro aporte de US$ 12 bilhões (R$ 70 bilhões) previsto para esta terça-feira (15).
Além desse montante, será feita uma transferência de US$ 2 bilhões (R$ 11,7 bilhões) em junho e de US$ 1 bilhão (R$ 5,9 bilhões) para o segundo semestre. No total, o país receberá US$ 15 bilhões do fundo apenas este ano.
O Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento também anunciaram pacotes de US$ 12 bilhões e US$ 10 bilhões (R$ 58,4 bilhões), respectivamente.
A eliminação do chamado “cepo” ocorre após semanas de uma crise cambial, que levou o Banco Central a vender mais de US$ 2 bilhões (R$ 11,6 bilhões) para sustentar a moeda.
O país está saindo de uma grande crise econômica sob o comando de Milei, que assumiu o cargo no final de 2023 e conseguiu estabilizar a economia com uma política de austeridade e disciplina fiscal.
“Os avanços na política representam um progresso significativo, permitindo que o país desbloqueie um potencial que foi sufocado por décadas devido à má formulação de políticas”, disse o banco JPMorgan.
Os ajustes drásticos de Milei nas aposentadorias, na educação e na saúde levaram a uma queda da inflação de 211% em 2023 (quando o peso foi desvalorizado em 52%) para 118% no ano passado.
No entanto, a desaceleração do aumento do custo de vida foi interrompida em fevereiro, quando registrou 2,4%, subindo para 3,7% em março passado.
Neste contexto, a algumas horas da chegada de Bessent, um grupo de terapeutas e familiares de pessoas com deficiências protestava na frente da sede do governo contra a falta de financiamento para o setor, exibindo cartazes com a frase “A deficiência não pode esperar”.
“Vive-se com muita angústia, à beira do desespero”, disse Viviana Fernández, psicopedagoga e mãe de uma pessoa com deficiência, que denunciou “atrasos nos pagamentos de muitos meses” e limitações na autorização de benefícios”.
Mas o presidente prometeu que “em meados do ano que vem, acaba o problema da inflação na Argentina”.
Santiago Furiase, membro da direção do Banco Central, também minimizou o impacto inflacionário do novo regime cambiário. “As pessoas vão levar um tempo para se acostumar, estão há anos com o chip de que a cada vez que o dólar sobe, associa-se à inflação”, disse ao canal La Nación+.
“Certamente, a cotação vai ter uma reação inicial, mas em seguida será uma trajetória rumo ao piso da banda”, acrescentou.