Países asiáticos, europeus e norte-americanos alertaram Donald Trump sobre uma possível retaliação às tarifas de 25% sobre carros anunciadas na quarta-feira (26), ameaçando desencadear uma guerra comercial global em grande escala.
O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, disse que “todas as opções” estavam sendo consideradas, e a Coreia do Sul prometeu uma resposta de emergência.
Os impostos entrariam em vigor em 2 de abril, quando Washington também deve aplicar uma série de tarifas recíprocas contra parceiros comerciais. As tarifas sobre carros são a medida de política comercial mais agressiva de Trump até o momento e afetaram as ações de montadoras como Toyota, Stellantis e Porsche.
“Precisamos pensar na melhor opção para o interesse nacional do Japão. Estamos considerando todas as opções para chegar à resposta mais apropriada”, disse Ishiba ao parlamento do país nesta quinta-feira (27).
Executivos da indústria alertaram que montadoras asiáticas e europeias seriam as mais afetadas. Fabricantes de luxo, como Jaguar Land Rover e Aston Martin, também estão expostos, já que não fabricam carros nos EUA.
Com US$ 40 bilhões em vendas de carros para os EUA em 2024, o Japão é o maior exportador de veículos acabados para o país, depois do México, onde as empresas japonesas são as fabricantes dominantes.
Enquanto países ao redor do mundo se preparam para um prazo de menos de uma semana, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que o bloco planeja “proteger seus interesses econômicos” enquanto busca uma solução negociada para a disputa.
O ministro das finanças francês, Eric Lombard, atacou os EUA por “mudar completamente sua política econômica de maneira muito agressiva”, prejudicando as economias de ambas as regiões.
“A única solução para a UE será aumentar suas próprias tarifas sobre produtos americanos”, acrescentou Lombard. Em entrevista à rádio France Inter, ele também disse que Bruxelas já esta trabalhando em uma lista de produtos-alvo.
Em contraste, a chanceler do Reino Unido, Rachel Reeves, sinalizou que o governo britânico não tem planos de retaliar, dizendo que não estava em uma “posição em que queremos fazer algo para escalar essas guerras comerciais”.
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, já havia denunciado o que descreveu como “um ataque direto” aos trabalhadores do setor automotivo.
Mas Trump não deu sinais de recuar.
“Se a União Europeia trabalhar com o Canadá para causar danos econômicos aos EUA, tarifas em grande escala, muito maiores do que as atualmente planejadas, serão impostas a ambos”, ele postou em sua rede Truth Social na manhã desta quinta.
“POR ANOS FOMOS EXPLORADOS POR PRATICAMENTE TODOS OS PAÍSES DO MUNDO, TANTO AMIGOS QUANTO INIMIGOS. MAS ESSES DIAS ACABARAM —AMÉRICA EM PRIMEIRO LUGAR!!!”, diz a publicação.
As ações da Stellantis, proprietária das marcas Fiat, Peugeot e Chrysler, Porsche e Volkswagen caíram. Fabricantes europeus de peças automotivas também foram afetadas, com a francesa Valeo caindo 5% e a alemã Continental 2,8%. General Motors e Ford também caíram nas negociações pré-mercado em Nova York.
A decisão da Casa Branca de impor tarifas sobre peças de automóveis importadas, bem como veículos completos, pode causar mais danos, disseram analistas. Quase metade dos veículos vendidos nos EUA são importados, e os carros montados nos EUA contêm quase 60% de peças de origem estrangeira, de acordo com pesquisa da Bernstein.
Trump disse que as tarifas elevadas convencerão empresas estrangeiras a fabricar mais carros nos EUA, impulsionando a indústria manufatureira do país.
Sigrid de Vries, diretora-geral da associação europeia da indústria automotiva Acea, instou Trump a “considerar o impacto negativo das tarifas não apenas sobre as montadoras globais, mas também sobre a manufatura doméstica dos EUA”.
Os fabricantes europeus exportam até 60% dos veículos que fabricam nos EUA, de acordo com a Acea.
Colaboraram Kana Inagaki e Mari Novak em Londres e Anne-Sylvaine Chassany em Berlim