Donald Trump anunciou na quarta-feira (9) uma pausa de 90 dias nas tarifas para todos os principais parceiros comerciais dos EUA, desencadeando alívio imediato em Wall Street ao recuar de uma política que ameaçava perturbar o comércio mundial.
Ao mesmo tempo, Trump aumentou as tarifas sobre a China para 125%, intensificando sua guerra comercial com a segunda maior economia do mundo.
A pausa na batalha de tarifas recíprocas de Trump é a mais recente de uma série de reviravoltas feitas pelo presidente dos EUA na caótica implementação da política comercial desde sua posse em janeiro.
POR QUE TRUMP PAUSOU AS TARIFAS?
A amplitude e o tamanho das tarifas dos EUA sobre seus principais parceiros comerciais desencadearam uma venda global de ações e atraíram críticas raras a Trump por parte de parlamentares republicanos no Capitólio. Vários bilionários também criticaram as tarifas, incluindo alguns dos maiores apoiadores do Partido Republicano.
Explicando sua decisão na quarta-feira, Trump mencionou a queda global do mercado, que se estendeu a uma venda de títulos do Tesouro dos EUA, e disse que as pessoas estavam ficando “nervosas”. “Você tem que ter flexibilidade”, disse Trump aos repórteres.
Sua decisão foi tomada enquanto o representante do Comércio, Jamieson Greer, prestava depoimento a parlamentares no Capitólio. Steven Horsford, congressista de Nevada, questionou Greer momentos depois que Trump anunciou a pausa. “O que está acontecendo, quem está no comando?”.
“O presidente dos Estados Unidos está no comando”, respondeu Greer.
QUAIS TARIFAS PERMANECEM?
Os EUA agora têm uma tarifa básica de 10% sobre as importações de todos os países, incluindo a UE (União Europeia), com isenções para chips, cobre, madeira, produtos farmacêuticos, ouro, energia e minerais não encontrados nos EUA.
Automóveis e peças de automóveis também escaparam da tarifa de 10%, mas continuam sujeitos a uma tarifa separada de 25% introduzida por Trump no mês passado.
México e Canadá evitaram o pior das tarifas recíprocas, mas Washington aplicou tarifas de 25% a todas as importações de seus dois vizinhos que não cumpriram os termos de seu acordo de livre comércio de 2020, o USMCA (sigla em inglês para o Acordo EUA-México-Canadá).
A Casa Branca confirmou na quarta-feira que a tarifa de 25% permanecerá em vigor.
As tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA permanecerão, e as investigações que poderiam levar a tarifas sobre cobre e madeira estão em andamento.
O presidente também pode cumprir suas promessas de impor tarifas sobre chips e produtos farmacêuticos.
AS TARIFAS ‘RECÍPROCAS’ VOLTARÃO?
Trump disse que mais de 70 países estão se preparando para fechar acordos com Washington.
Para evitar um cenário em que as tarifas voltem em 90 dias, a Casa Branca buscará rapidamente fechar acordos sobre as tarifas “recíprocas” pausadas, incluindo em países intensivos em manufatura como Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Camboja.
Allie Renison, ex-funcionária do departamento de comércio do Reino Unido, agora na consultoria SEC Newgate, diz que, dada a dificuldade de conduzir tantas negociações simultaneamente, uma opção mais rápida seria mudar de tarifas gerais para taxas setoriais mais direcionadas e isenções de produtos.
“Trump poderia abandonar a imposição de tarifas gerais país por país para um sistema baseado em tarifas específicas por produto, o que poderia ser mais gerenciável para os fabricantes e visar barreiras comerciais injustas em produtos específicos”, afirma.
POR QUE TRUMP NÃO REDUZIU AS TARIFAS SOBRE A CHINA?
Trump aumentou as tarifas sobre a China de 104% para 125%, mesmo reduzindo-as em outros países. A medida veio depois que Pequim aplicar tarifas retaliatórias sobre os EUA mais cedo na quarta-feira em resposta a um aumento anterior por Washington.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, culpou a China pelas tarifas retaliatórias. “Como eu disse a todos uma semana atrás exatamente neste local, ‘Não retalie e você será recompensado'”, disse ele na quarta-feira.
Enquanto muitos países se aproximaram da Casa Branca para realizar negociações comerciais, os EUA e a China não tiveram negociações.
O presidente disse que não prevê aumentos adicionais na taxa de tarifa sobre a China, acrescentando que espera que os dois países cheguem a um acordo em algum momento.
Mas Pequim disse à administração Trump que vê as tarifas como uma tática de intimidação e que não será intimidada pelas ações do presidente dos EUA.
Embora Trump tenha sugerido que o presidente Xi Jinping concordará em falar com ele em algum momento, o líder chinês é improvável de concordar com uma ligação —muito menos uma reunião— a menos que os funcionários tenham primeiro delineado os contornos de um acordo que tornaria as discussões mais politicamente viáveis para Xi em casa.
A GUERRA COMERCIAL GLOBAL ACABOU?
Economistas alertam que a agitação já criada pela abordagem de Trump em relação às tarifas terá impactos negativos devido à incerteza e desconfiança que pairam sobre as relações comerciais dos EUA.
Nicolò Tamberi, do Centro de Política Comercial Inclusiva da Universidade de Sussex, no Reino Unido, diz que a incerteza desencorajou investimentos, já que as corporações adotaram uma política de esperar para ver antes de decidir como ajustar suas cadeias de suprimentos.
“A literatura [acadêmica] sugere que os efeitos da incerteza podem ser tão ruins quanto as tarifas, e há uma enorme quantidade de incerteza aqui. Então, mesmo que Trump faça acordos para evitar os impactos das tarifas hoje, talvez ele mude de ideia amanhã”, afirma.
Investidores de mercado também podem adotar uma estratégia de esperar para ver antes de assumir que a agitação acabou.
Steven Abrahams, chefe de estratégia de investimento na Santander US Capital Markets, alertou que, sem mais clareza, os investidores podem decidir esperar pelos próximos 90 dias em vez de voltar ao mercado.
“Vimos o ‘dia da libertação’ um. Sem clareza, alguns podem investir apesar da possibilidade do ‘dia da libertação’ dois, mas muitos não o farão”, diz.
Aime Williams
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, Demetri Sevastopoulo
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e Will Schmitt