Imagine que você está dirigindo e o painel do carro acende um alerta de motor. Você tem duas escolhas: parar e investigar ou ignorar, acreditando que é apenas um erro. Se estiver certo, segue viagem sem problemas. Se estiver errado, pode acabar com o motor fundido no meio da estrada. No mundo dos investimentos, algo semelhante acontece quando um investidor ignora sinais de alerta e insiste em um erro por tempo demais.
Esse comportamento é explicado por dois vieses comportamentais que andam de mãos dadas: o viés da confirmação e o excesso de confiança. Daniel Kahneman e Amos Tversky, pioneiros da economia comportamental, demonstraram que as pessoas tendem a buscar apenas informações que confirmam o que já acreditam e a superestimar sua própria habilidade. Essa combinação pode fazer com que um investidor mantenha ativos ruins por anos, convencido de que sua análise está correta, mesmo quando os fundamentos indicam o contrário.
O viés da confirmação faz com que um investidor filtre informações de maneira seletiva. Se acredita que um setor vai subir, procurará apenas notícias positivas e ignorará alertas de risco. O excesso de confiança, por sua vez, o leva a crer que sua análise é melhor do que a do mercado, reforçando a decisão equivocada.
Um estudo clássico de Barber e Odean, com o título “Boys will be Boys: Gender, Overconfidence, and Common Stock Investment” e publicado no Quarterly Journal of Economics, analisou o comportamento de milhares de investidores e concluiu que aqueles que operavam com maior excesso de confiança realizavam mais transações e tinham retornos piores do que aqueles mais cautelosos. Isso acontece porque eles acreditam que podem prever melhor o mercado e ajustam suas carteiras sem base sólida.
Nos mercados, esse viés é comum. O investidor que comprou ações de uma empresa e está convencido de que elas irão se recuperar ignora evidências de que os fundamentos pioraram. O fã de criptomoedas que acredita cegamente no futuro do Bitcoin busca apenas análises otimistas e desconsidera os riscos. O acionista que vê o preço de suas ações caindo há anos mantém o papel esperando um retorno improvável, enquanto o mercado já seguiu em outra direção.
Para evitar esses erros, é essencial questionar as próprias convicções. Antes de tomar uma decisão de investimento, procure entender os argumentos contrários: o que o mercado sabe que eu posso estar ignorando?. Além disso, defina critérios objetivos para reavaliar a carteira. Em vez de manter um ativo apenas porque acredita nele, estabeleça métricas claras para medir seu desempenho. Se uma ação perdeu 30% e seus fundamentos pioraram, por que continuar segurando? Se um fundo imobiliário não distribui dividendos não desempenha bem, faz sentido mantê-lo?
Evitar esses vieses exige disciplina, mas os melhores investidores sabem que o verdadeiro risco nem sempre está no mercado. Muitas vezes, está nas armadilhas da própria mente. Quem aprende a questionar suas certezas e a tomar decisões racionais se protege de carregar uma carteira perdedora por anos. No final das contas, ignorar os sinais de alerta pode sair muito mais caro do que reconhecer um erro a tempo e seguir em frente.
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