Quase um século após a conquista do direito ao voto pelas mulheres no Brasil, em 1932, muitos voos foram alcançados. A presença feminina cresceu na política, no mercado de trabalho e na alta liderança. Há uma evolução clara, mas os desafios ainda permanecem, principalmente no ambiente corporativo. Atualmente, 37% dos cargos de liderança sênior no Brasil são ocupados por executivas, segundo a 20ª edição do estudo Women in Business: Pathways to Parity, da consultoria Grant Thornton, divulgado em março do ano passado. Esse índice, porém, sofreu uma leve redução em relação a 2023, quando era de 39%. O que mostra que, apesar do crescimento, ainda há barreiras a serem superadas.
Faz sentido. Um estudo da Lean In e McKinsey aponta que, para cada 100 homens promovidos a cargos de gerente, apenas 65 mulheres recebem a mesma oportunidade. Essa diferença estrutural ao longo da carreira contribui para a menor representatividade feminina no topo das organizações. Ainda, um relatório do ManpowerGroup, destaca que quase metade das empresas globalmente, 48% reconhece que suas iniciativas de igualdade de gênero estão atrasadas ou não foram definidas. Inclusive, outra pesquisa do Boston Consulting Group, ressalta que companhias com maior diversidade de gênero em posições de liderança são 19% mais inovadoras e obtêm receitas 9% superiores às concorrentes com menor protagonismo feminino.
O acesso à educação também é um fator essencial para ampliar as oportunidades das mulheres no mercado. Em 2024, elas representaram 60,59% dos inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), reafirmando sua busca por qualificação e desenvolvimento de carreira. Mas não se trata apenas de presença, e sim de resultados: em 2023, 76% dos candidatos que alcançaram a nota máxima na redação eram mulheres. Esse desempenho evidencia a capacidade feminina, ao mesmo tempo em que reforça o impacto positivo da inclusão de mulheres em cargos estratégicos para o crescimento sustentável das organizações.
Mais do que uma questão de justiça social, a presença feminina no comando tem um impacto direto no crescimento econômico e no desenvolvimento sustentável. As empresas precisam rever seus processos internos, eliminar barreiras invisíveis e adotar práticas que incentivem em todas as áreas. Assim como a conquista do voto feminino representou uma virada histórica, a equidade no mercado de trabalho deve ser encarada com a mesma urgência.
A luta por direitos não terminou e, assim como foi necessário mobilização para garantir o sufrágio feminino, alcançar a igualdade profissional exige mudanças estruturais e esforços contínuos. Dessa forma, poderemos alcançar um cenário verdadeiramente igualitário, transformar o futuro das próximas gerações e honrar o legado daquelas que lutaram antes de nós.
O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Renata Guilherme foi “Viva La Vida”, de Coldplay.
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