O ex-goleiro Haílton Corrêa de Arruda, mais conhecido como Manga, morreu na manhã desta terça-feira (8), aos 87 anos.
Tetracampeão carioca com o Botafogo, tricampeão gaúcho e bi brasileiro pelo Internacional, Manga estava internado no Hospital Rio Barra, no Rio de Janeiro. Ele tratava nos últimos anos um câncer de próstata.
Convocado pela seleção brasileira na Copa de 1966, Manga também enfileirou títulos pelo Nacional, do Uruguai, sendo o primeiro goleiro do país a fazer sucesso em grandes equipes do exterior.
Reconhecido como um dos grandes jogadores da posição na história do futebol brasileiro, sua data de aniversário —26 de abril— passou a ser considerada o “dia do goleiro”.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) determinou um minuto de silêncio nos jogos da próxima rodada das Séries A e B do Campeonato Brasileiro em homenagem a Manga.
“Ë uma tristeza a morte do Manga para todos os fãs do futebol. Ele faz parte da história do nosso futebol e merece todas as homenagens dos fãs do futebol”, afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Natural de Recife, o ex-goleiro começou a carreira no Sport, alcançando o tricampeonato pernambucano (1955, 1956 e 1958), antes de migrar para o Rio, onde se tornou ídolo defendendo a camisa do Botafogo entre 1959 e 1968.
Historiador do Botafogo, Auriel de Almeida recorda que, naquela época, os estaduais eram o campeonato de maior prestígio no cenário nacional.
Ele lembra que, no primeiro bicampeonato carioca pelo Botafogo, em 1961 e 1962, Manga era um dos principais nomes de um time estrelado que tinha Garrincha, Amarildo e Zagallo. No segundo bicampeonato, em 1967 e 1968, atuava ao lado de Jairzinho, Gérson e Paulo Cézar Caju.
“Ele era um goleiro muito ágil, de ótimos reflexos e tinha uma reposição de bola rápida, em uma época em que isso não era tão comum. Antes do Manga, os goleiros pensavam muito para repor a bola. Muitos creditam o Manga como um goleiro que fazia o jogo andar rápido. Ele conseguia defender e repor com rapidez, inteligência, raciocínio”, afirmou Auriel de Almeida.
O goleiro também ficou conhecido em seu período no alvinegro por jogar sem as luvas, quebrando os dedos inúmeras vezes durante treinos e jogos oficiais. As fraturas e a volta aos treinos antes do tempo de repouso necessário o deixaram com os dedos tortos, marca que carregou por toda a vida.
“Não gostava de agarrar com luvas porque elas não me passavam confiança. Nessa época as luvas não eram tão boas. Eram muito grossas e ficavam frouxas nos dedos. Eu esfregava a minha mão na terra para sentir mais segurança, principalmente nos dias que chovia e a bola escorregava”, afirmou em entrevista ao ge em 2018.
Após a passagem de quase uma década pelo alvinegro, na qual ainda venceria três edições do Torneio Rio-São Paulo, Manga se transferiu para o Nacional, do Uruguai.
Segundo Almeida, ele foi o primeiro goleiro brasileiro a se transferir para um clube de relevância futebolística no exterior, tornando-se ídolo no país vizinho. Em 2020, quando Manga já sofria com problemas de saúde, torcedores uruguaios se mobilizaram para arcar com os gastos e até hospedá-lo durante sua estadia em Montevidéu.
Pelo Nacional, em que passou a jogar com luvas, Manga foi tetracampeão uruguaio (1969, 1970, 1971 e 1972) e venceu a Copa Libertadores, em 1971.
Na decisão da Copa Intercontinental de 1971, o adversário do Nacional foi o Panathinaikos, da Grécia, vice-campeão europeu —o campeão Ajax, de Johan Cruyff, abriu mão de participar do torneio.
Após empate em 1 a 1 em solo grego, o time uruguaio venceu por 2 a 1 no Estádio Centenário, em Montevidéu, vencendo a competição pela primeira vez. O Nacional voltaria a levantar a taça da competição em 1980 (batendo o inglês Nottingham Forest do goleiro Peter Shilton) e em 1988 (quando venceu o PSV nos pênaltis).
Pelo clube uruguaio, o goleiro chegou até a marcar um gol em partida contra o Racing, com um chute potente que cruzou o campo e encobriu o goleiro adversário, em 1973.
Manga também teve passagens por Grêmio (campeão gaúcho em 1979), Coritiba (campeão paranaense em 1978), e Operário-MS (campeão mato-grossense em 1977). Seu último clube foi o Barcelona de Guayaquil-EQU, conquistando o campeonato equatoriano em 1981. Ele se aposentou no ano seguinte, aos 45 anos.
Casado com a equatoriana Cecilia Cisneros, seguiu vivendo no Equador. Voltou ao Brasil somente em 2020, quando passou a morar no Retiro dos Artistas, na zona oeste do Rio de Janeiro. —ele foi o primeiro ex-jogador a morar no local.
Com a camisa da seleção brasileira, o goleiro foi convocado pelo técnico Vicente Feola como reserva de Gilmar na Copa de 1966. Assumiu a posição no terceiro jogo da fase de grupos, contra Portugal, após contusão sofrida pelo titular do posto. Então bicampeão, o Brasil de Pelé, Garrincha e Jairzinho acabou eliminado ainda na fase de grupos.
O goleiro acabou ficando marcado defendendo as cores do Brasil por falhas em um amistoso preparatório para o Mundial contra a União Soviética, em 1965, que terminou empatado em 2 a 2, no Maracanã.
“Era uma época em que havia muito pouca tolerância com goleiros que errassem, desde aquele episódio injusto com o Barbosa, que foi crucificado na Copa de 1950. Algumas pessoas falam, inclusive, que a tolerância era ainda menor com goleiros negros”, afirmou o historiador.
Os clubes que Manga defendeu ao longo da carreira prestaram suas homenagens em publicações nas redes sociais.
“Manga foi um dos maiores goleiros da história do futebol mundial e defendeu nosso Glorioso de 1959 a 1968, tendo integrado dois dos maiores times da nossa história, os bicampeões cariocas de 61/62 e 67/68”, escreveu o Botafogo.
“Faremos todas as homenagens a esse gigante de nossa história, que seguirá eternamente vivo em nossos corações”, afirmou o presidente do Botafogo, João Paulo de Magalhães Lins.
“Sua atuação na final do Brasileiro de 1975, jogando com dois dedos quebrados, simboliza a coragem e a entrega que o tornaram um dos maiores goleiros da nossa história”, destacou o Internacional.
A final daquele ano, disputada no Beira-Rio entre Internacional e Cruzeiro, ficou marcada por uma grande defesa do goleiro em cobrança de falta do lateral Nelinho.
O time do Inter era comandado pelo técnico Rubens Minelli e tinha nomes como Falcão e Paulo César Carpeggiani. Venceu a decisão por 1 a 0 com gol do zagueiro chileno Figueroa.
“O Club Nacional de Football lamenta profundamente o falecimento de Haílton Corrêa de Arruda “Manga”, Campeão da Conmebol Libertadores 1971, Copa Interamericana 1971 e quatro campeonatos uruguaios. Aos seus familiares, amigos e entes queridos, o abraço mais forte. Adeus, Manga”, publicou o Nacional.
“O Grêmio lamenta profundamente o falecimento de Hailton Corrêa de Arruda, o ex-goleiro Manga, aos 87 anos. Com passagem pelo Tricolor no fim da década de 1970, conquistou o Campeonato Gaúcho de 1979. Nossos sentimentos aos familiares, amigos e a todos que acompanharam sua trajetória. Que descanse em paz”, escreveu o Grêmio.
“Obrigado Manga por todas as alegrias que nos deu. Todo o Barcelona S. C. te lembrará para sempre”, publicou o Barcelona de Guayaquil.
“É com muito pesar que recebemos a notícia do falecimento do goleiro Manga. Um nome gigante do futebol e que temos a honra de dizer que foi prata da nossa casa. Nossas condolências aos familiares, amigos e fãs”, destacou o Sport.