O estigma em torno da menopausa pode ter um impacto significativo na vida profissional das mulheres. No Brasil, 47% relatam algum tipo de efeito negativo no ambiente de trabalho, segundo a pesquisa Experiência e Atitudes na Menopausa, encomendada pela farmacêutica Astellas e divulgada em março.
O estudo investigou o estigma associado à menopausa no Brasil e em outros cinco países: Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos e México. A coleta de dados ocorreu entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, com um total de 13.800 participantes. A amostra brasileira foi composta por 2.000 pessoas do público geral e 300 mulheres entre 40 e 55 anos.
Entre os principais impactos relatados por mulheres brasileiras estão a redução da produtividade (26%), a discriminação explícita (9%) e o medo de contar aos colegas (17%). Esse último afetou profundamente Leila Rodrigues, 57, que começou a vivenciar os sintomas aos 41. Na época, trabalhava no setor de tecnologia —uma área predominantemente masculina— e conta que não tinha com quem conversar. Além disso, todos os colegas eram mais jovens.
“Foi muito difícil, muito solitário, não ter com quem dividir, com quem falar”, diz. “Foi muito traumático para mim nesse sentido.”
A pesquisa indica que 29% das brasileiras se sentem confortáveis para conversar com seus gestores imediatos sobre a menopausa. No cenário internacional, os dados são semelhantes: 24% dizem se sentir à vontade para falar com superiores hierárquicos.
Os sintomas também afetam outras áreas da vida. Quase 1 em cada 3 pessoas que passaram pela menopausa relataram prejuízos em seus relacionamentos pessoais e íntimos. Além disso, 11% disseram que os sintomas interferiram na capacidade de atingir objetivos pessoais e 7% relataram impacto na vida profissional.
Entre os principais efeitos apontados internacionalmente estão a redução da produtividade (17%), o medo de contar aos colegas (14%) e a discriminação explícita (7%) —números um pouco menores que os registrados no Brasil.
Leila conta que, no seu caso, os principais sintomas foram insônia, ganho de peso e enxaqueca, o que prejudicava diretamente seu rendimento. “São sintomas que geralmente atrapalham a vida da mulher, a produtividade”, diz.
Outros sintomas comuns nesse período incluem ansiedade, alterações de humor e confusão mental. Ela afirma que não havia espaço para falar sobre o assunto com seus gestores, mas insistiu para que o tema ganhasse visibilidade e pudesse beneficiar outras mulheres na empresa.
Na época, há 16 anos, começou a se informar por meio de livros comprados em sebos, já que havia pouca literatura nacional disponível, como existe hoje. Segundo a pesquisa, o impacto da menopausa no ambiente de trabalho é um dos temas menos abordados na mídia —tanto no Brasil (11%) quanto no cenário global (13%).
Sua experiência pessoal com a menopausa a motivou a mudar de carreira e iniciar um trabalho voltado ao tema. “Se não fossem os meus sintomas, eu não teria tomado tantas atitudes e feito tantas mudanças na minha vida”, afirma.
Leila atua em uma consultoria especializada no tema, que leva conhecimento para empresas, planos de saúde e prefeituras. “Temos certeza de que uma mulher bem orientada trabalha muito melhor”, diz. Para ela, é fundamental educar as mulheres sobre como identificar os sintomas e onde buscar ajuda. “É ela entender que a menopausa não é algo que se resolve com um remédio comprado na farmácia. Ela precisa entender que é a protagonista da própria menopausa.”
A profissional atua com funcionárias e com empresas, oferecendo palestras, mentorias e propondo adaptações a partir de diagnósticos institucionais e diz que parte dessas mudanças deve partir das próprias instituições.
Na Grã-Bretanha, por exemplo, desde o início de 2024, a Comissão de Direitos Humanos e Igualdade (EHRC, na sigla em inglês) passou a orientar empresas a adotarem medidas de apoio a mulheres. A ação surgiu como resposta à crescente preocupação com o número de mulheres deixando seus cargos devido aos sintomas.
Entre as adaptações recomendadas estão ajustes na temperatura e ventilação dos ambientes, já que um dos sintomas mais comuns são os fogachos, caracterizados por ondas intensas de calor.
Empresas que não seguirem essas recomendações podem ser processadas por capacitismo, uma vez que, no Reino Unido, a menopausa passou a ser reconhecida, em alguns casos, dentro da categoria de deficiência, conforme a Lei de Igualdade de 2010.
No Brasil, ainda não há legislação semelhante. No entanto, as mulheres representam a maioria da população a partir dos 25 anos e o país está envelhecendo. “Essas mulheres estão no mercado de trabalho e são produtivas”, diz Leila. “O mercado ainda precisa delas e, quando se investe no que é importante para elas, elas continuam trabalhando —e trabalhando bem.”
Aos 57 anos, Leila afirma que ainda tem muito a contribuir. “Estou disposta a entregar muito para o mercado.”