O BRB (Banco de Brasília) encontrou R$ 2 bilhões a mais em ativos de maior risco e baixa liquidez no Banco Master. Esses ativos, contudo, não entrarão no negócio de aquisição da instituição de Daniel Vorcaro, segundo pessoas a par da operação.
Com os novos achados, os ativos que serão apartados do Master devem subir para R$ 25 bilhões. Entre eles, precatórios (dívidas a receber de sentenças judiciais), direitos creditórios de ações judiciais, ações de empresas e parte de crédito da fatia do Master.
O espólio desses ativos, que ficaram com Vorcaro, podem ser adquiridos por um consórcio de bancos com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que garante aplicações até R$ 250 mil em casos de dificuldades de instituições financeiras, como revelou a Folha.
O assunto foi tema da reunião deste sábado (5), em São Paulo, entre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e dirigentes dos maiores bancos privados do Brasil (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e BTG Pactual), além do presidente do FGC, Daniel Lima.
Ainda não houve formalização de proposta pelos bancos ao FGC, que garantiria o fluxo de caixa. Os bancos saíram com o objetivo de avaliar a compra da parte que não seria adquirida pelo BRB. Ao BC interessa uma solução completa para o Master. A Folha mostrou que o BTG poderia ficar com a fatia em separado dos precatórios, mas integrantes do banco negam que tenham interesse nesse modelo.
O processo de auditagem dos ativos e passivos do Master ainda está em curso. Uma das cinco cláusulas condicionantes para a aquisição ser efetivada é a “conclusão satisfatória ao BRB da diligência sobre os ativos e passivos do Master”, de acordo com o comunicado divulgado ao mercado no dia do anúncio do novo arranjo societário e assinatura do contrato de compra e venda entre os dois bancos, em 28 de março.
A reorganização societária do Master, com a segregação de ativos e passivos, incluindo participações societárias em controladas, também é uma condicionante para a conclusão da operação.
Em entrevista à Folha no dia seguinte à operação, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, falou sobre os detalhes da transação e informou que cálculos preliminares apontavam o valor de R$ 23 bilhões de ativos que seriam apartados do Master. Na ocasião, ele antecipou que o valor poderia aumentar.
Análises da auditoria do BRB, à qual a Folha teve acesso, mostram que a retirada de ativos ruins por parte do Banco de Brasília pode ser ainda maior. Os auditores encontraram até agora cerca de R$ 16 bilhões em precatórios. Parte desses ativos foi encontrada em FIDCs (Fundo de Investimento em Direito Creditórios), um tipo de investimento em renda fixa.
O BRB também poderá fazer ajustes técnicos no PL (Patrimônio Líquido) do Master. Cálculos preliminares apontam que o valor pode cair cerca de R$ 2 bilhões. Balanço do banco, divulgado na semana passada ao mercado, apontou um patrimônio de R$ 4,7 bilhões do Master.
Procurados, Master e BRB não comentaram até a publicação da reportagem.
Ações em Garantia
Para a compra de 58% do capital do Master pelo BRB, Vorcaro aceitou algumas condições, e algumas ainda não são totalmente conhecidas pelo mercado. Uma delas é que os 42% restantes do Master que o banqueiro manterá com ele ficarão em garantia ao BRB, segundo pessoas que participaram do acordo.
O preço de aquisição a ser pago pelo BRB será equivalente a 75% do Patrimônio Líquido consolidado do Banco Master, calculado conforme demonstrações financeiras auditadas, ajustado por eventuais baixas de ativos ou reconhecimentos de apontamentos no balanço do Banco Master realizados pela diligência contábil e financeira da PwC (PricewaterhouseCoopers).
Cerca de 25% do pagamento ficarão retidos por um tempo numa conta escrow (conta de garantia, usada para guardar dinheiro durante uma negociação) para lastro em eventuais contingências.