Kerolin, 25, às vezes usa duas calças, um casaco grosso, luvas e cachecol para treinar. Não tem sido fácil para ela a adaptação ao frio de Manchester.
Nascida em Bauru, no interior de São Paulo, a atacante estava habituada a temperaturas mais altas no Brasil e também na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, onde jogou por três temporadas antes de se transferir para a liga inglesa, contratada pelo Manchester City no começo deste ano.
O sonho de ganhar a cobiçada Bola de Ouro, entregue pela revista France Football à melhor jogadora do mundo, foi sua principal motivação para trocar a NWSL (a liga feminina de futebol dos Estados Unidos) pela WSL (a liga inglesa da modalidade), que considera a “melhor do mundo”.
Em 2024, a lista com as 30 melhores da France Football tinha oito atletas que atuaram por clubes da Inglaterra. O prêmio principal ficou com a espanhola Aitana Bonmatí, do Barcelona, e é cobiçado pela paulista.
“Não vai ser fácil, mas os sonhos servem para isso, né?”
Durante as negociações com o Manchester City, Kerolin conversou sobre a liga inglesa com Gabi Nunes, sua companheira na seleção brasileira e atualmente atacante do Aston Villa.
Contratada pelo clube inglês em setembro de 2024, a jogadora com passagem vitoriosa pelo Corinthians alertou a amiga sobre as dificuldades da competição, mas afirmou também que as habilidades de Kerolin seriam suficientes para superar qualquer adversária.
O time está na quarta posição da WSL, com 35 pontos, 13 atrás do líder Chelsea. O primeiro colocado do campeonato foi também algoz do City nas quartas de final da Champions League, com uma surpreendente virada: depois de ter perdido o jogo de ida por 2 a 0, venceu na volta por 3 a 0.
Kerolin disputou os dois jogos, realizando o sonho de atuar na competição. “Sou muito grata por poder jogar a Champions”, disse a atleta, que ainda passa por uma fase de adaptação. Em 13 partidas pela equipe, anotou dois gols, um na WSL e outro na Copa da Liga Inglesa.
A brasileira busca a melhor forma após uma lesão grave no joelho direito, com rompimento do ligamento cruzado anterior. Ela se machucou em outubro de 2023, mas conseguiu se recuperar a tempo de disputar os Jogos de Paris, em julho de 2024, quando ajudou o Brasil a chegar à medalha de prata. Participou de cinco jogos, um como titular, e anotou um gol, no duelo semifinal com a Espanha.
O desempenho foi observado pelos dirigentes do City, que consideraram também as temporadas dela no North Carolina Courage para buscar sua contratação. Ela ganhou duas copas nacionais nos Estados Unidos, em 2022 e 2023.
Agora, a atacante busca a Copa da Liga Inglesa. Sua equipe está nas semifinais e enfrentará o Manchester United no domingo (13). Vencer o torneio ainda não dará o destaque que a brasileira busca, mas pode ser um bom começo para seu recomeço na Europa —ela jogou brevemente pelo Madrid CFF, em 2020/21.
Também está em seus planos firmar-se na seleção brasileira. Seu maior objetivo é vencer a Copa do Mundo de 2027, no Brasil.
Na última terça-feira (8), Kerolin ajudou a seleção a quebrar um jejum contra os Estados Unidos. Ela marcou o primeiro gol na vitória por 2 a 1 da formação verde e amarela, que não vencia o time norte-americano fazia 11 anos. O último triunfo havia sido em 2014, um 3 a 2 no Torneio de Brasília, com três gols de Marta.
Até a semana atual, as americanas vinham de nove vitórias seguidas sobre as brasileiras, incluindo as finais da Copa Ouro e dos Jogos Olímpicos de Paris, ambas em 2024.
A decisão olímpica teve ares de despedida para Marta, embora o técnico Arthur Elias ainda diga que planeja convocar a craque de 39 anos.
Sem a histórica jogadora em campo, Kerolin foi quem vestiu a camisa 10 nos últimos amistosos do Brasil. Motivo de muito orgulho para a jogadora, que, na infância, teve de enfrentar uma grave infecção óssea.
Quando tinha 12 anos, ela teve um diagnóstico de osteomielite e conviveu com o risco de amputar a perna. Não foi necessário, e a atleta agora tem objetivos ambiciosos no futebol e fora do esporte, como explica seu agente, Sérgio Feltrini.
“Queremos que ela seja um ícone para as próximas gerações. Ela é camisa 10 da seleção brasileira, com um perfil muito forte, ligado à moda, autenticidade, coragem e trabalho”, explica Feltrini, também agente da Roc Nation Sports, que cuida da carreira de diversos atletas, como Vinicius Jr.