O ministro Fernando Haddad (Fazenda) defende que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) opere, de início, em modo de espera diante da tarifação do governo de Donald Trump.
“A sociedade vai ter que pensar como se portar diante de um fato que é disruptivo do ponto de vista econômico. Não é o momento agora de anunciar medida. É tentar ver se a poeira abaixa, se estabiliza, para que nós possamos começar a nos movimentar, de maneira a nos proteger dessa situação, que é muito tensa mesmo”, disse Haddad nesta terça-feira (8), em evento do Bradesco BBI.
Segundo Haddad, o Brasil pode se beneficiar em certa medida da imposição de tarifas globais pelos Estados Unidos.
“Nossos produtos lá no mercado dos EUA vão ficar mais baratos. Se eu não estou enganado, as tarifas substituíram a política de cotas duras, o que significa dizer que tínhamos um bloqueio de exportação que, a princípio, não existe mais, o que nos permite avançar naquilo que eles importam hoje”, disse o ministro.
No entanto, Haddad pondera que o Brasil pode sofrer com o efeito negativo na economia da China, principal parceiro comercial do país, e a queda nos preços das commodities.
“Inclusive o petróleo chegou a bater a mínima de muito tempo. Eu estive nos Emirados Árabes este ano para discutir investimentos no Brasil. E o que se conversou bilateralmente foi a pressão americana para que o barril chegasse a US$ 60, e ele está quase neste patamar”, disse Haddad.
Na Bolsa de Londres, o barril de óleo Brent, usado como referência, fechou o pregão desta terça cotado a US$ 61,62.
Apesar das incertezas, Haddad diz que o Brasil pode passar por este momento de maneira semelhante a 2008, quando a crise financeira teve menos impacto no país que nas principais economias globais.
“O Brasil, no quadro geral, está bem. Não tem dívida externa, tem reservas cambiais, tem um saldo comercial bastante robusto, está colhendo uma supersafra, está com taxa de juros alta e crescendo”, disse o petista.
“[Este] não é o caso de nenhum país latino-americano, por exemplo, incluindo o México. Ninguém está nessa situação. Então, relativamente, diante do incêndio, nós estamos mais perto da porta de saída”, completou.
Com relação ao risco fiscal, que, segundo analistas, tem impedido um maior fluxo de investimentos para o Brasil, o ministro disse estar confiante no cumprimento do arcabouço.
“Sempre estou olhando ali no meu painel de controle. Nós temos medidas para tomar para que isso [cumprimento da meta fiscal] aconteça. Se eu verificar se tem algum risco, algum desvio, eu entro em cena e vamos conversar com o Congresso. Mas, até agora eu acredito que nosso planejamento está funcionando”, afirmou Haddad.
Ele também defendeu um ajuste fiscal gradual ante um choque como o promovido na Argentina pelo governo de Javier Milei.
“Sinceramente, eu não vejo nenhuma razão para uma economia como a brasileira adotar um receituário que não sei nem se é adequado lá, mas aqui eu tenho certeza que não é. Nós tivemos a prudência de calibrar essa trajetória para não impedir a economia de crescer.”