Obras da mais importante coleção particular de arte sacra do Brasil, além de trabalhos de artistas como Rubem Valentim, Victor Brecheret e Emanoel Araújo são apenas uma pequena parte do que estará exposto no Parque Geminiani Momesso, em Ibiporã, a 25 quilômetros de Londrina, no Paraná.
O parque, que tem previsão de inauguração oficial no fim deste ano, vai abrigar 80% do acervo de 5.000 obras do empresário e colecionador Orandi Momesso —fundador da rede de escolas de inglês Skill.
Segundo ele, que há 15 anos começou a reflorestar a área que abriga o parque, antes uma fazenda de soja, a ideia era “ter de volta o verde da infância” e dar um destino certo para a sua coleção de arte. “Vão-se os dedos, ficam os anéis”, diz o empresário.
Serão 15 pavilhões com temas como arte sacra, contemporânea, popular e dos povos originários, além de áreas para abrigar obras de Angelo Venosa, Iole de Freitas e um local para exposições temporárias. O mobiliário brasileiro também terá seu lugar, com móveis projetados por Lina Bo Bardi, Zanine Caldas e Rino Levi, além de móveis da época colonial.
“Vamos contar um pouco da história do arte no Brasil, desde urnas funerárias pré-cabralinas, pias batismais, objetos de engenho, carrancas. No pavilhão dos povos originários, por exemplo, teremos cerca de 500 peças do plumário indígenas. No Pavilhão ‘Sagrado’, o de arte sacra, eu convidei Bia Lessa para criar o espaço que vai abrigar a minha coleção, que, modéstia à parte, rivaliza com a do Museu de Arte Sacra de São Paulo. No Pavilhão A Mão do Brasil, também montado pela Bia, teremos mil peças de arte popular brasileira.”
Uma biblioteca, um espaço ecumênico, uma recepção com um restaurante, um mirante com vista para o lago e um espaço de residência artística, chamado de Casa Taipa, também fazem parte do projeto. A primeira residente do parque será a escultora Iole de Freitas, que vai passar dez dias ali para finalizar a montagem de seu pavilhão. A biblioteca irá abrigar a coleção de Orandi, que inclui livros raros e primeiras edições, além de livros doados por outros colecionadores.
As 85 esculturas que ficarão ao livre já estão instaladas no parque. São trabalhos de nomes como Francisco Brennand, Siron Franco, Sérgio Romagnolo, Gilberto Salvador, José Resende, Liuba Wolf, Yutaka Toyota, Marcelo Nietzsche, Rafael Galvez, Caíto, Lygia Reinach e Claudio Tozzi. Há projetos para aquisição de obras de Aleijadinho e Hélio Oiticica.
Orandi, que também é um dos maiores colecionadores de pinturas de Volpi no Brasil, ainda não sabe quando as obras do artista irão para o parque.
“A coleção de pintura do século 19 até os dias de hoje ainda está comigo. E eu estou pensando o que vai ser. Não quero largar. Ainda estou com o cordão umbilical preso, mas evidentemente terá que ir para o parque. Uma hora vai.”
Diferentemente do mais famoso museu a céu aberto do Brasil, o Inhotim, o Geminiani Momesso só vai abrigar peças de artistas brasileiros ou de estrangeiros que têm ou tiveram uma relação próxima com o país. “O paisagismo que estamos fazendo no parque é bem diferente do que existe no Inhotim, que também é maravilhoso. No Geminiani Momesso temos mais horizonte”, diz Orandi.
Do tamanho de um parque Ibirapuera e meio, o Geminiani Momesso tem 1,6 milhão de metros quadrados que passam pela nascente do rio Tibagi. Rodolfo Geiser e Christiane Ribeiro, paisagistas responsáveis pelo projeto, dizem que há 15 anos, quando começaram a trabalhar na área, apenas 8% do espaço abrigava vegetação – o resto era soja. Hoje, 45% da área do parque tem árvores plantadas. Algumas partes são reproduções da mata atlântica e outras abrigam bosques paisagísticos. “É sobretudo um projeto de preservação da natureza”, diz Geiser.
Segundo Momesso, muitos amigos colecionadores questionam a escolha dele de levar toda a coleção para o Paraná. “Eu já doei obras para o Masp, para a Pinacoteca e para o MAM, mas, lembrando de Fernando Pessoa, eu digo que o Tibagi é o rio da minha aldeia”.