Kirsty Coventry, ex-nadadora, recordista mundial, campeã olímpica e ex-ministra do Esporte do Zimbábue, será a próxima presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional). É a primeira mulher a dirigir a maior entidade do esporte mundial, responsável pelas Olimpíadas, em 131 de anos de história da entidade. É também a primeira pessoa não vinda da Europa ou dos EUA a alcançar o posto.
“É um sinal muito poderoso. É um sinal de que somos realmente globais e que evoluímos em uma organização que realmente é aberta à diversidade. Vamos continuar nessa estrada pelos próximos oito anos”, declarou Coventry, 41, pouco depois da vitória.
Nome preferido do atual presidente, o alemão Thomas Bach, a dona de dois ouros olímpicos nos anos 2000 foi eleita em um único turno de votação nesta quinta-feira (20), em Costa Navarino, na Grécia, em uma demonstração de força não projetada pelos analistas.
De um total de 97 votos possíveis, ela alcançou exatamente o necessário para vencer a disputa, 49.
Coventry bateu seis homens na disputa, incluindo o ex-atleta e executivo de Londres-2012, Sebastian Coe, e Juan Antonio Samaranch, filho do dirigente que fez história nos anos 1980 e 1990 tornando os Jogos Olímpicos um negócio de bilhões de dólares. O inglês, apontado como favorito pelo imprensa britânica, alcançou apenas 8 votos, contra 28 de Samaranch.
Os dois se apresentavam como reformistas, criticando a centralização de poder promovida por Bach, notadamente na escolha das sedes olímpicas. Em 12 anos turbulentos, o alemão, campeão olímpico de esgrima, conseguiu afastar o comitê das antigas denúncias de corrupção e ainda manter o caixa em dia.
“Estou muito feliz pela Kirsty. Temos uma atleta à frente da organização e isso é muito bom”, declarou Coe, diplomático, sem arriscar grandes explicações sobre o resultado. “Parece bem claro que os atletas e as mulheres em particular a apoiaram fortemente. Essas coisas acontecem em eleições”, disse.
Também participaram da eleição e receberam votos o príncipe jordaniano Feisal Al Hussein (2), o presidente da UCI, a federação internacional de ciclismo, David Lappartient (4), Johan Eliasch (2), presidente da federação de esqui e snowboard, e Morinari Watanabe (4), principal dirigente da federação de ginástica.
“Estou honrada e animada por ter sido eleita presidente do COI. Quero agradecer sinceramente aos meus colegas de comitê por sua confiança e apoio. A jovem que começou a nadar no Zimbábue, há tantos anos, jamais poderia ter sonhado com este momento”, disse Coventry, logo após o anúncio de sua vitória.
“E me sinto particularmente orgulhosa por ser a primeira mulher presidente do COI e também a primeira da África. Espero que esse voto sirva de inspiração para muitas pessoas. Limites foram superados hoje, estou plenamente consciente de minhas responsabilidades como modelo.”
Coventry, medalha de ouro nos 200 m costa em Atenas-2004 (“Grécia parece ser o meu lugar de sorte”, brincou) e Pequim-2008, ganhou ainda quatro pratas e um bronze, tornando-se a atleta africana olímpica mais premiada da história. Poucos anos depois das piscinas, em 2013, assumiu um posto na Comissão de Atletas do COI, presidindo o grupo entre 2018 e 2021 e fazendo parte do pequeno círculo de comando montado por Bach.
“Não há dúvida de que o futuro do nosso Movimento Olímpico é brilhante e que os valores que defendemos continuarão a nos guiar nos próximos anos”, disse o atual presidente, ao lado da sucessora, logo após anunciar o resultado do pleito.
Coventry foi eleita para um mandato de oito anos e, pelo estatuto atual, tem o direito de concorrer a uma reeleição para mais quatro. Ela assume o posto em 23 de junho. “Quero ouvir os colegas que concorreram comigo. Eles trouxeram várias boas ideias para a discussão, vamos aproveitar tudo o que for possível”, disse a presidente eleita, que vinha sendo criticada justamente por falta de conteúdo em sua campanha.
Também não foi esquecido seu passado de complacência com a situação política do Zimbábue, atualmente sob sanção dos EUA e da União Europeia, e sua relativa proximidade com Robert Mugabe, ditador que ficou 37 anos no poder até ser derrubado por um golpe militar em 2017.
Indagada sobre o desafio de organizar os Jogos de Los Angeles, em 2028, sob a até aqui divisiva administração Donald Trump, Coventry buscou ajuda em Paris-2024, celebrada como uma das melhores edições da história. “Todos viram como Paris iluminou e promoveu o entendimento entre todos nós. Queremos continuar assim no futuro.”
E voltou a falar em diversidade, algo que virou palavrão nos EUA, a ponto de diversas empresas abdicarem de programas sobre o assunto com o retorno de Trump à Casa Branca. “O movimento olímpico tem durado tantas gerações porque une as pessoas. A diversidade é uma maneira unificadora de nos conectarmos com os outros.”