Os empréstimos do tipo “compre agora, pague depois” são frequentemente usados para parcelar compras caras, como smartphones, móveis ou eletrodomésticos, sem juros. Agora, consumidores famintos podem adicionar mais uma opção à lista: comida.
Embora isso possa trazer uma nova camada de conveniência aos compradores, alguns especialistas alertam que esses serviços podem impactar negativamente clientes que compram itens desnecessários ou além de suas possibilidades financeiras.
O aplicativo de entregas DoorDash firmou uma parceria com a Klarna, serviço de pagamentos e comércio, para oferecer opções aos clientes no momento do checkout. Entre elas estão pagar imediatamente, dividir o valor em quatro parcelas ou adiar os pagamentos para “um momento mais conveniente, como uma data alinhada ao cronograma de seus salários”, conforme anunciado em comunicado na quinta-feira.
“À medida que expandimos as ofertas da DoorDash —de mantimentos e produtos de beleza a eletrônicos e presentes—, opções de pagamento flexíveis são essenciais para atender às necessidades dos nossos clientes”, afirmou Anand Subbarayan, chefe de produtos financeiros da empresa, no comunicado.
Um dos principais concorrentes da DoorDash, o Grubhub, também utiliza a Klarna para soluções de pagamento.
Serviços de “compre agora, pague depois”, como Klarna, Affirm e Afterpay, estão sendo cada vez mais adotados por consumidores nos Estados Unidos. Na última temporada de festas, mais compradores do que nunca recorreram a métodos de pagamento diferido, segundo reportagem do The Washington Post.
No ano passado, o CFPB (Consumer Financial Protection Bureau, ou Agência de Proteção Financeira ao Consumidor dos EUA) classificou os aplicativos de “compre agora, pague depois” na mesma categoria dos cartões de crédito, visando maior proteção aos consumidores. Essa classificação exige que as empresas investiguem disputas e ofereçam reembolsos em casos de devolução de produtos ou cancelamento de reservas.
Ainda assim, mesmo sem taxas de juros adicionais, esses empréstimos apresentam riscos, dizem especialistas. Eles operam com base em um princípio psicológico simples: separar a dor de perder algo —seu dinheiro— do prazer de receber algo, que no caso da DoorDash é comida, explica Anish Nagpal, professor associado de marketing que estuda tomada de decisão comportamental na Universidade de Melbourne, na Austrália. Segundo ele, serviços que dissociam dor e prazer aumentam os gastos dos consumidores.
“O problema é que isso começa a ter uma influência muito abrangente e negativa sobre pessoas que não podem pagar”, acrescentou Nagpal. “Elas querem algo agora e entram em uma espiral de dívidas, sempre tentando correr atrás para cumprir os pagamentos.”
Nitika Garg, professora e pesquisadora de comportamento do consumidor na UNSW (University of New South Wales, ou Universidade de Nova Gales do Sul), na Austrália, afirma que as opções de “compre agora, pague depois” promovem a gratificação instantânea, o que pode ser problemático a longo prazo — especialmente quando levam a compras desnecessárias.
“Com a queda na alfabetização financeira dos consumidores, espero que esses recursos sejam mais usados”, escreveu ela em um e-mail. “Especialmente se as condições econômicas não forem ideais, como em crises de custo de vida ou recessões.”
Klarna e DoorDash não responderam imediatamente a pedidos de comentários adicionais.
A Klarna, sediada na Suécia, protocolou na semana passada seu prospecto para uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) e listagem na Bolsa de Valores de Nova York em abril. A empresa também anunciou recentemente que a gigante do varejo Walmart passará a usar seu serviço de empréstimos “compre agora, pague depois”. A Klarna afirma ter 675 mil parceiros comerciais em 26 países, com 93 milhões de consumidores ativos.