A guerra comercial entre os EUA e a China atingiu novos patamares. Esta semana, Donald Trump concentrou seu forte protecionismo em seu antigo adversário econômico. Na quarta-feira (9), o presidente dos EUA suspendeu tarifas “recíprocas” —acima da taxa básica universal de 10%— para todos os parceiros comerciais, exceto Pequim.
As importações dos EUA da China agora enfrentam tarifas totais de até 145% —uma retaliação pela resposta da China aos anúncios tarifários da Casa Branca em 2 de abril. A equipe de Trump também vai entrar em breve em negociações tarifárias com países que apoiam as cadeias de suprimentos chinesas.
Nesta sexta-feira (11), Pequim revidou, aumentando a taxação sobre produtos dos EUA para 125%. O maior exportador e o maior mercado consumidor do mundo estão agora, de fato, isolados um do outro.
Os próximos passos do presidente dos EUA permanecem, como sempre, incertos.
Para a China, a turbulência do sistema comercial global a coloca diante de uma escolha estratégica sobre como moldar sua política econômica. No curto prazo, perder o acesso aos mercados dos EUA e o risco crescente de uma recessão global vão corroer sua demanda externa. Atualmente, o consumo doméstico ainda está definhando devido a uma crise imobiliária.
O presidente Xi Jinping também quer que a produção tecnológica sustente seu modelo de crescimento a longo prazo, o que deixa o país vulnerável à abordagem turbulenta de Trump em relação ao comércio internacional.
A China poderia aproveitar a turbulência. A disposição da Casa Branca em impor tarifas pesadas e causar caos nos mercados financeiros minou a credibilidade dos EUA com os parceiros comerciais.
Trump deu a Pequim um motivo e uma oportunidade para se integrar mais com essas nações. Afinal, a maioria dos países ainda acredita nos benefícios do comércio e a China já é o principal parceiro comercial de muitos países em todo o mundo.
Mas Pequim precisa entender o contexto.
Neste momento, os países estão em alerta para o desvio para seus mercados de produtos chineses baratos, antes destinados aos Estados Unidos. Isso se soma às crescentes preocupações de que a máquina de exportação chinesa está esmagando indústrias domésticas, desde a mineração até a fabricação de automóveis, em todo o mundo.
No ano passado, o superávit comercial global da China em bens atingiu um recorde de US$ 1 trilhão. Os EUA estão longe de ser os únicos a acusar Pequim de usar táticas desleais. Desde que se tornou membro da OMC (Organização Mundial do Comércio) em 2001, as alegações levantadas contra a China incluem dumping, subsídios injustos e fracas proteções de propriedade intelectual.
Se a China ignorar essas preocupações, corre o risco de sofrer uma reação negativa em mais países, não apenas nos Estados Unidos de Trump. Isso prejudicaria as perspectivas de crescimento do país, ampliaria o protecionismo global e desaceleraria o crescimento mundial.
Em vez disso, Pequim deveria se empenhar mais em apaziguar as preocupações dos parceiros comerciais, particularmente as da UE, o maior bloco comercial do mundo.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse ao Financial Times que o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, prometeu estimular o consumo interno da China para evitar inundar os mercados europeus com produtos chineses. Pequim deveria cumprir isso. Depender as exportações não é sustentável para suas relações comerciais de longo prazo ou para seu próprio desenvolvimento econômico.
A China também não pode se dar ao luxo de descartar o mercado dos EUA.
Embora tenha começado a se desvincular da América no primeiro mandato de Trump, o consumidor americano continuará sendo uma importante fonte de demanda por produtos chineses. É verdade que Pequim tem influência na guerra comercial: possui participações significativas em títulos do Tesouro dos EUA e poderia reprimir empresas americanas que operam na China.
Mas continuar o ciclo de sanções econômicas retaliatórias “olho por olho” com os Estados Unidos não é do interesse de nenhum dos países, nem da economia global. Ambos os lados precisam encontrar uma saída e negociar uma solução para esta crise.
A agenda caótica de Trump e o foco nos déficits comerciais colocaram em evidência as preocupações internacionais com a superprodução da China.
À medida que a ordem comercial global muda, sua própria prosperidade também depende de ajustar seu modelo econômico.