O Banco Central estuda a criação de um modelo para padronizar o ambiente de concessão de crédito via open finance –ecossistema que permite o compartilhamento de dados pessoais, bancários e financeiros entre instituições, mediante autorização do cliente. Essa é uma das medidas apresentadas como prioritárias na agenda estratégica do BC para 2025.
A ideia, segundo o secretário-executivo do BC, Rogério Lucca, é criar um “ambiente comum” em que o cliente possa solicitar e receber ofertas das instituições financeiras. A medida tem como foco beneficiar empresas, mas pode ser estendida a pessoas físicas.
“Uma medida que a gente priorizou para esse ano no âmbito do open finance é pensar em algum modelo de padronizar o ambiente de concessão de crédito”, disse Lucca em uma live promovida pelo BC.
“Em que eu possa chegar em um ambiente comum e falar: ‘Olha, eu quero crédito imobiliário de tal valor’ e conseguir fornecer os meus dados e receber ofertas dos bancos de quais seriam as condições para ter acesso ao crédito”, acrescentou.
Ainda dentro da agenda do open finance, o BC quer criar um fluxo de informações padronizadas entre pessoas jurídicas (micro, pequenas e médias empresas e microempreendedor individual) e instituições financeiras.
“Quando a empresa vai ao banco solicitar uma operação de crédito. A gente vai discutir a possibilidade de ter informações de forma padronizada, que seja fácil para o comerciante poder prover isso para instituição financeira, e a instituição financeira poder trabalhar isso de forma padronizada, para poder fazer análise de crédito e facilitar a concessão de crédito”, exemplificou o secretário-executivo do BC.
Lucca disse ainda que o BC vem conversando com o mercado financeiro e com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tornar mais efetiva a portabilidade de crédito.
A agenda de 2025 inclui também a discussão de alternativas para melhorar o processo de concessão e de fontes de financiamento para crédito imobiliário em um cenário de retração de recursos da poupança.
“Com a evolução da tecnologia, com a evolução de modelos de negócio, com a facilidade de transferência de recursos, com o avanço de educação financeira, as pessoas começaram a sacar o dinheiro da caderneta de poupança, começaram a investir em outros ativos que dão mais rentabilidade, LCI [Letra de Crédito Imobiliário], LCA [Letra de Crédito do Agronegócio], título público federal, Tesouro Direto”, disse Lucca.
“Isso tem um contraponto, a poupança sempre serviu para funding [fonte de recursos] de crédito imobiliário. A gente está debruçado neste tema. A gente tem conversado com governo, com mercado, para ver o que a gente pode fazer para melhorar esse processo tanto de concessão quanto de fonte de financiamento de crédito imobiliário”, continuou.
A partir de 2026, começa a agenda estratégica elaborada pela gestão de Gabriel Galípolo, que assumiu a chefia do BC em janeiro. Política monetária, estabilidade do sistema financeiro, comunicação e aprimoramento institucional são alguns dos pilares desse novo plano, que ainda está em construção.
Um dos focos até 2029 será “desentupir” os canais de transmissão de política monetária, melhorando a qualidade do crédito e dos sistemas de garantias.
Hoje, o diagnóstico é que esses canais estão entupidos, o que tira potência da política de juros e demanda um esforço maior da autoridade monetária para conseguir levar a inflação em direção à meta.