O CEO da Vale, Gustavo Pimenta, vê na China e no Japão —mercados que está visitando neste momento de insegurança no comércio internacional—, “um pragmatismo nas ações, uma relação comercial estável, que é muito positiva para a companhia”.
Foi resposta a uma pergunta sobre a imprevisibilidade introduzida pelos EUA, com a guerra tarifária lançada pelo presidente Donald Trump. Em entrevista em Pequim, pouco antes de embarcar para Tóquio, afirmou que isso vale para a Ásia em geral, que ele avalia como “muito estável”.
“O Japão segue sendo um mercado importante, por isso a gente está sempre visitando os clientes japoneses”, disse. “Eles foram até um certo momento o principal mercado da Vale, depois a China tomou essa posição, mas eles continuam sendo um mercado importante, no minério de ferro.”
Pimenta reconhece que andou apreensivo com a China. Três meses após ser eleito CEO da Vale, em agosto, viajou ao país. E a mensagem que recebeu o deixou com “uma preocupação”: se viriam ou não as medidas de estímulo à economia –e em qual magnitude.
Desta vez, na última semana em Pequim e Xangai, “conversando com clientes, ministros, uma série de stakeholders relevantes, o sentimento melhorou bastante”. Os clientes chineses “têm percebido uma demanda na ponta”.
E a recente Assembleia Nacional Popular, sublinha o executivo, reafirmou para este ano a meta de cerca de 5% de crescimento no PIB, inclusive aumentar o suporte fiscal de 3% para 4%.
“São sinais bastante concretos de apoio à economia”, disse, pouco depois de acompanhar o pronunciamento nessa direção feito pelo primeiro-ministro Li Qiang no Fórum de Desenvolvimento da China, no domingo (23), em Pequim, prometendo ser uma “força de estabilização” ao auditório lotado de executivos e economistas.
O CEO da Mercedes-Benz, Ola Källenius, também presente, comentou depois: “Neste mundo de instabilidade, nós sentimos que aqui existe um ponto de estabilidade, com pessoas que conhecemos, em quem confiamos”.
Mas “obviamente a guerra tarifária não é positiva”, diz Pimenta. As tarifas sobre o aço chinês, por exemplo, “não têm um impacto direto sobre a Vale, mas é preciso monitorar onde vão terminar, porque têm um potencial de arrefecimento do PIB mundial”.
Se isso se confirmar, haverá “reflexo direto no mercado de commodities, na demanda por minério de ferro”.
No caso específico da China, o problema do minério de ferro estava mais ligado à crise imobiliária, que é anterior. “A grande variável do minério de ferro é a produção de aço dentro da China”, explica o executivo.
“Esse aço tinha uma destinação talvez de 40% para o mercado imobiliário, que caiu bastante. Mas o que a gente percebe é uma mudança no mix. Houve um crescimento grande, principalmente em manufatura.”
Segundo ele, carros, linha branca de eletrodomésticos e outros setores industriais “equilibraram a demanda por aço e, com isso, ela se manteve também para os nossos produtos”.
A estabilidade na China, no Japão e na Coreia do Sul, outro cliente asiático da Vale, também se reflete no compromisso de longo prazo com a descarbonização da indústria, segundo Pimenta.
“Uma das razões da minha visita é testar isso, onde está a cabeça deles, se estão recuando nos compromissos, mas eu estou saindo otimista”, afirmou, encerrando a passagem pela China.
No Japão, ele se integra à delegação de mais de cem empresários brasileiros que acompanha a visita de Estado do presidente Lula. Questionado sobre os atritos do atual governo com a Vale, ao menos na gestão anterior, diz que “a relação está muito boa”.
“A gente tem muita pauta convergente”, diz. “A gente teve o prazer de ter a presença do presidente lá em Carajás, um mês atrás. A gente anunciou o Novo Carajás, um objetivo nosso de investir até R$ 70 bilhões no desenvolvimento de minerais críticos. A gente quer poder investir, crescer. A gente quer o que o país quer.”