É possível fazer um motor pequeno, sem turbo, dar conta de mover um carro grande com dignidade? Os franceses acreditam que sim, conforme comprovado pela versão de apelo popular do Citroën Basalt.
O SUV compacto recebeu o 1.0 flex de origem Fiat (75 cv com etanol) conciliado ao câmbio manual de cinco marchas. O carro, que tem fila de espera de até três meses no mercado nacional, passou pelo teste Folha Mauá.
As primeiras impressões em meio ao trânsito urbano foram positivas. A relação curta das primeiras marchas permite acompanhar o trânsito como qualquer outro automóvel “mil”. A posição de dirigir relaxada e o pedal de embreagem com acionamento leve ajudam a encarar engarrafamentos.
Apesar do tamanho, o Basalt pesa 1.120 kg, o que não é muito quando comparado aos hatches Peugeot 208 (1.060 kg) e Fiat Argo (1.077 kg), ambos equipados com o mesmo conjunto mecânico do Citroën. Todos esses modelos são produzidos pelo grupo Stellantis.
Segundo as medições do Instituto Mauá de Tecnologia, o SUV compacto precisou de 18,1 segundos para ir do zero aos 100 km/h, sendo 0,2 segundo mais rápido que o Argo 1.0 nesta prova.
Em relação a concorrentes de menor porte de outras fabricantes, há vitórias e derrotas. O Chevrolet Onix (a partir de R$ 94,9 mil) precisou de 16,3 s para cumprir a prova, enquanto o Volkswagen Polo Track (R$ 95.790) levou 18,6 s.
CITROËN BASALT FEEL 1.0 FLEX
Preço R$ 92.990 (março/2025)
Motorização flex, 999 cm³; 75 cv com etanol e 71 cv com gasolina, ambas a 6.000 rpm
Torque 10,7 kgfm a etanol e 10,1 kgfm a gasolina, ambos a 3.250 rpm
Transmissão câmbio manual, cinco marchas
Pneus 205/60 R16
Peso 1.120 kg
Porta-malas 490 litros
Comprimento 4,34 m
Largura 1,82 m
Altura 1,59 m
Entre-eixos 2,65 m
Capacidade do tanque 47 litros
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos) 18,1 (etanol) e 19,5 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos) 19,3 (etanol) e 19,5 (gasolina)
Consumo urbano (km/l) 10,1 (etanol) e 15,2 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l) 16,4 (etanol) e 21,8 (gasolina)
Autonomia rodoviária com etanol (a 90 km/h) 771 km
Autonomia rodoviária com gasolina (a 90 km/h) 1.025 km
O número que mais importa, contudo, é o preço. O Basalt mais em conta custa R$ 92.990, valor que inclui quatro airbags, rodas de liga leve, acionamento elétrico dos vidros e das travas das portas, ar-condicionado, direção com assistência elétrica e 490 litros disponíveis no porta-malas. Somado ao espaço interno de carro grande, parece imbatível. Mas é preciso avaliar outros pontos.
Na estrada, o motor 1.0 pede constantes trocas de marcha para manter o embalo. Não é nada diferente quando comparado aos demais veículos de motorização semelhante, mas é preciso considerar que o desempenho será prejudicado pela carga.
De acordo com os dados aferidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, o Basalt precisou de 19 s para acelerar de 80 km/h a 120 km/h. Essa prova simula uma ultrapassagem na estrada com somente o motorista a bordo. Se houver quatro ocupantes e suas bagagens, algo fácil de acomodar no SUV, o tempo deverá se aproximar dos 25 s.
Equipado com motor 1.0 turbo flex (130 cv) e câmbio automático do tipo CVT (continuamente variável, que simula sete marchas), o Citroën precisou de 10 s para cumprir a mesma prova. O desempenho tem seu preço: é preciso gastar mais R$ 8.000 para não passar por sustos na rodovia.
Entretanto, havia uma solução mais indicada para o porte do Basalt no portfólio do grupo Stellantis. A montadora produz o motor 1.3 Firefly, que oferece 107 cv quando abastecido com etanol.
Um Argo Endurance equipado com essa motorização e câmbio manual foi para a pista de testes junto com o Citroën. Embora seja mais pesado (1.187 kg), o hatch voltado apenas para venda a frotistas levou 13,6 s para ir do zero aos 100 km/h. Já a prova de retomada (80 km/h a 120 km/h) foi cumprida em 12,2 s.
FIAT ARGO ENDURANCE
Preço R$ 89.990 ( fevereiro/2025, venda somente para empresas)
Motorização flex, 1.332 cm³; 107 cv com etanol a 6.250 rpm e 98 cv com gasolina a 6.000 rpm
Torque 13,7 kgfm a 4.000 rpm com etanol e 13,2 kgfm a 4.250 rpm com gasolina
Transmissão câmbio manual, cinco marchas
Pneus 205/60 R15
Peso 1.187 kg
Porta-malas 300 litros
Comprimento 4 m
Largura 1,72 m
Altura 1,57 m
Entre-eixos 2,52 m
Capacidade do tanque 47 litros
Aceleração (0 a 100 km/h, em segundos) 13,1 (etanol) e 14,1 (gasolina)
Retomada (80 km/h a 120 km/h, em segundos) 12,6 (etanol) e 14,3 (gasolina)
Consumo urbano (km/l) 10 (etanol) e 13,3 (gasolina)
Consumo rodoviário (km/l) 15,6 (etanol) e 19,4 (gasolina)
Autonomia rodoviária com etanol (a 90 km/h) 733 km
Autonomia rodoviária com gasolina (a 90 km/h) 912 km
Contudo, subir um degrau dentro da linha de motores da empresa teria impacto no preço final. Por ter motor 1.0, o Basalt manual paga menos IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) que a opção de maior cilindrada vendida pela Fiat.
Não se trata de potência, mas, sim, de capacidade volumétrica do motor. É uma distorção que vem do início dos anos 1990, quando foi criado o programa de incentivo associado aos carros populares, que deveriam ter motorização “mil”.
Espera-se por mudanças com a chegada do IPI Verde, pautado em eficiência energética. Ainda não há data para que a nova tributação entre em vigor.
Diante das questões fiscais, o Citroën Basalt 1.0 flex segue como a opção mais espaçosa entre os modelos zero-quilômetro que custam menos de R$ 100 mil no mercado brasileiro. É uma solução interessante para transportar a família com mais conforto em relação aos hatches de mesmo preço, mas o motorista não pode ser apressado.