A União Europeia suspendeu seu pacote inicial de retaliações aos EUA depois do recuo de Donald de Trump em suas tarifas recíprocas. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou uma pausa de 90 dias no plano aprovado nesta semana que imporia uma sobretarifa média de 25% sobre uma ampla gama de produtos americanos, que vão de soja a maquiagens, passando por aço e veículos.
“Este é um passo importante para estabilizar a economia global”, declarou Von der Leyen, em comunicado divulgado nesta quinta-feira (10). “Condições claras e previsíveis são essenciais para o funcionamento do comércio e das cadeias de suprimentos. A União Europeia está pronta para negociações construtivas.”
Na véspera, com os mercados em pânico e uma preocupação crescente com a venda generalizada de títulos americanos, Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas sobretarifas impostas a diversos países, como era o caso da União Europeia, antes atingida por 20%. A taxa linear agora é de 10%, com exceção da China, retaliada com 125%.
Os europeus continuam submetidos a uma taxação de 25% sobre aço, alumínio e carros, mas ainda estudam como reagir ao novo cenário. “Sempre defendi um acordo tarifário zero por zero”, afirmou Von der Leyen, reforçando sua proposta de zerar as tarifas para produtos industrias nos dois lados do Atlântico.
Ao Financial Times, a dirigente afirmou que a UE está preparada para implementar medidas comerciais mais poderosas e pode impor tarifas sobre empresas digitais dos EUA se as negociações com Trump falharem.
Disse, ainda, que o bloco buscaria um acordo “completamente equilibrado” com Washington durante a pausa nas tarifas.
“Estamos desenvolvendo medidas retaliatórias”, disse von der Leyen, explicando que elas poderiam incluir o primeiro uso do instrumento anticoerção do bloco, com o poder de atingir as exportações de serviços. “Há uma ampla gama de contramedidas caso as negociações não sejam satisfatórias.”
Ela disse que isso poderia incluir tarifas sobre o comércio de serviços entre os EUA e a UE, enfatizando que as medidas exatas dependeriam do resultado das negociações com Washington. “Um exemplo seria a possibilidade de aplicar uma taxa sobre as receitas de publicidade de serviços digitais.”
No começo da semana, Trump havia recusado a oferta de tarifa zero do bloco, sugerindo no lugar que a União Europeia mitigasse o déficit americano na balança comercial com o bloco comprando energia. “Podemos ganhar US$ 350 bilhões (R$ 2,04 trilhões) em uma semana”, declarou o presidente americano. Ainda que Von der Leyen já tenha cogitado comprar mais gás natural liquefeito dos EUA no começo do ano, em resposta às primeiras ameaças de tarifaço, a UE não precisaria do produto na escala exigida por Trump.
A primeira fase do pacote de retaliações do bloco, aprovado na quarta-feira (9) por todos os países do bloco com exceção da Hungria, entraria em vigor na próxima semana e afetaria € 21 bilhões (R$ 135,1 bilhões) em importações dos EUA. A previsão inicial era uma retaliação sobre € 28 bilhões (R$ 180,9 bilhões), mas o pacote foi amenizado em conteúdo e prazo em um sinal claro de que a UE ainda se dispunha à negociação.
Pesou também a pressão de França, Itália e Espanha, que obtiveram a exclusão do uísque tipo bourbon. Trump havia ameaçado impor uma tarifa extra de 200% sobre os vinhos europeus. A Irlanda engordou o lobby, preocupada com suas exportações de uísque e laticínios, igualmente ameaçadas.
“Queremos dar uma chance às negociações”, disse Von der Leyen. “Se as negociações não forem satisfatórias, nossas contramedidas entrarão em ação. O trabalho preparatório para outras contramedidas continua”, afirmou a presidente do braço executivo da UE, antecipando-se a uma eventual nova reviravolta no discurso de Trump.
Kevin Hassett, assessor econômico da Casa Branca, declarou que o governo americano avalia propostas de negociação de ao menos 15 países. Não está claro se a União Europeia está na lista. Além da energia, Trump tem na mira também o mercado europeu de automóveis, que, segundo sua argumentação, usa tarifas não monetárias para se proteger de produtos americanos. Padrões rígidos de segurança veicular e consumo deveriam ser relaxados, afirmou o presidente nesta semana.
Especialistas do setor, porém, afirmam que o problema está nos modelos americanos, que não se submetem aos muitos requisitos de mercados externos. No sentido inverso, modelos europeus se adaptaram ao consumidor dos EUA, dinâmica que vem desde os anos 1970 e 1980, quando as marcas japonesas invadiram o país.