O governo enfrenta uma situação inusitada em Angra dos Reis, onde funcionários da Eletronuclear —dona de Angra 1 e 2— entraram em greve por maior reajuste de salário e poder de voto em decisões estratégicas da companhia.
O pleito, segundo a Eletronuclear, viola a lei que criou a companhia e os princípios de governança. Pessoas do governo que acompanham as negociações afirmam que, no centro das discussões, está um reajuste de 10% e a intenção dos funcionários de receberem hora extra durante a paralisação de Angra 1, que será reformada para ganhar mais 20 anos de vida útil. Esse grupo também busca pressionar a empresa pela retomada de Angra 3.
Embora a usina esteja paralisada e o governo sequer tenha decidido retomar as obras, 400 pessoas contratadas após concurso no governo Jair Bolsonaro para preencher as vagas de Angra 3 aguardam solução para o impasse.
O projeto foi alvo da operação Lava Jato, que identificou esquemas de corrupção.
Hoje, Angra 3 possui até superintendente de operação recebendo salário sem que a usina esteja em funcionamento, segundo relatos do governo.
Por ano, os gastos com esse pessoal somam R$ 200 milhões, segundo pessoas que participam das negociações —quase 20% do total da folha de pagamento.
O governo considera que, após a privatização da Eletrobras, a quem a Eletronuclear estava subordinada, diversos “excessos” precisam ser cortados, algo que o atual presidente da companhia, Raul Lycurgo Leite, tenta implementar.
Um dos motivos que levou a essa greve é, por exemplo, o reajuste concedido. Os funcionários pedem 10%, enquanto a proposta da companhia foi de 3,69%, índice que recompõe a inflação do período. Eles também pedem poder de decisão em reuniões estratégicas da companhia, como decidir quem fará hora extra em Angra 1 durante os 75 dias de reforma.
A empresa decidiu quais funcionários trabalharão nesse regime, mas o sindicato reivindica ter preferência na indicação. Pelos cálculos do governo, os salários podem quadruplicar nesse período.
O salário médio mensal dos funcionários varia entre R$ 40 mil e R$ 156 mil. Eles têm moradia, educação e saúde em uma vila construída pela empresa, com vista para o mar, e não pagam nada por isso —algo que a Eletronuclear questiona no momento e enfrenta uma ação judicial.
A companhia pretende reproduzir o modelo do Congresso Nacional que, apesar de possuir apartamentos funcionais para os parlamentares em Brasília (DF), cobra uma taxa de manutenção dos imóveis e edifícios.
Por ano, a Aneel autoriza cerca de R$ 700 milhões em despesas da Eletronuclear com pessoal na tarifa de energia. Esses gastos, contudo, ultrapassam R$ 1,1 bilhão. A diferença impacta o resultado da empresa. Em 2023, o lucro líquido foi de cerca de R$ 300 milhões.
Apesar da paralisação, a Eletronuclear informa que Angra 2 seguirá gerando energia normalmente.
Com Stéfanie Rigamonti
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