A Howmet Aerospace, que fornece peças para aviões construídos pela Airbus e Boeing, pode interromper algumas remessas às maiores fabricantes de aviões do mundo se essas remessas forem impactadas por tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A informação foi divulgada através de uma carta enviada aos clientes, a qual a Reuters teve acesso.
A empresa, sediada em Pitsburgo, na Pensilvânia, disse na carta que declarou um evento de força maior, uma prática legal que permite que as partes de um contrato evitem suas obrigações se forem atingidas por circunstâncias externas inevitáveis e imprevisíveis.
“A Howmet será dispensada de fornecer quaisquer produtos ou serviços que sejam afetados por esta emergência nacional declarada e/ou pela ordem executiva tarifária”, diz trecho do texto. Procurada pela Reuters, a empresa não comentou a declaração.
A Howmet é uma fornecedora de componentes metálicos essenciais usados na indústria de aviões comerciais, que movimenta US$ 150 bilhões. A Boeing e a Airbus não responderam aos pedidos de comentários sobre a carta, que, segundo três fontes do setor, foi enviada a diversas empresas do setor aeroespacial.
Parece ser a primeira manobra desse tipo por uma grande empresa aeroespacial desde o anúncio da tarifa, disse uma das fontes, sem delinear se há previsão de possíveis danos à indústria aeroespacial no curto prazo.
A rara declaração legal da Howmet não significa que os fornecimentos serão automaticamente interrompidos, mas abre a porta para o fornecedor alegar que não poderá cumprir seus contratos se for afetado pela ordem de emergência.
A carta deixou espaço para negociações sobre o compartilhamento do custo das tarifas, dizendo que a empresa trabalharia com os clientes “inclusive discutindo seu interesse em aliviar o impacto da Ordem Executiva de Tarifas.”
As três fontes do setor disseram que qualquer declaração bem-sucedida de força maior poderia repercutir na cadeia de suprimentos, à medida que as empresas tentam repassar o ônus.
A medida é o mais recente problema em uma cadeia de suprimentos aeroespacial duramente atingida, onde algumas empresas agora enfrentam custos mais altos devido às tarifas dos EUA sobre alumínio e aço importados, além de novos impostos que devem atingir as importações de outros países.
Na quarta-feira, Trump citou os déficits comerciais como uma emergência nacional quando anunciou tarifas com taxas variando de 10% a cerca de 50%, intensificando uma disputa que abalou investidores e alimentou temores de uma recessão iminente.
As empresas aeroespaciais normalmente contestam tais manobras, disseram duas das fontes, acrescentando que o sucesso da iniciativa de Howmet dependeria do grau de imprevisibilidade das tarifas, já que Trump havia se referido a elas em sua campanha eleitoral no ano passado.