A medida do governo de zerar as tarifas de importação de 11 alimentos pode ter efeito para os itens vindos de fora do Mercosul. A eliminação das tarifas poderia aliviar a taxa de inflação em 0,4 ponto percentual em 12 meses, considerando o peso desses alimentos no custo das famílias, segundo a POF (Pesquisa Orçamentária Familiar) do IPCA, do IBGE.
Tomando como referência as expectativas do mercado desta segunda-feira (17) de uma inflação de 5,66%, o efeito das alterações tributárias reduziria o IPCA para 5,26%. Esses produtos somam R$ 4 de cada R$ 100 gastos pelos consumidores. Nos dois primeiros meses deste ano, os itens incluídos na lista geraram gastos de US$ 218,3 milhões com importações, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). No topo da lista, estão azeite de oliva, óleo de palma, milho e carnes.
Portugal é importante nessa redução de preços. As compras brasileiras de azeite de janeiro a fevereiro somaram 8.453 toneladas, e os portugueses forneceram 68% desse volume. A Espanha, 12%. A eliminação da taxa de 9% e a forte queda dos preços no mercado europeu deverão reduzir os gastos brasileiros. A União Europeia produziu 2,13 milhões de toneladas de azeite de oliva na safra 2024/25, um volume 53% superior ao da safra 2022/23, período de forte queda.
Em Portugal, principal fornecedor brasileiro, os preços médios caíram de € 880 por 100 kg, em abril do ano passado, para € 400 neste mês, segundo dados da União Europeia.
Portugal é importante também no fornecimento de sardinhas, sendo responsável por 34% das importações brasileiras. A liderança é da Venezuela, com 48%.
A elevação do teto de 150 mil toneladas de óleo de palma com taxa zero também reduz preço, uma vez que o produto vem praticamente todo da Ásia. A Indonésia fornece 89%.Já as 43 mil toneladas de óleo de girassol importadas em 2024 vieram do Mercosul, com liderança da Argentina, da Bolívia e do Paraguai. A busca do produto em mercados fora da região elevaria custos logísticos.
A carne bovina é o item de maior peso na inflação, entre os liberados pelo governo. Paraguai, Argentina e Uruguai são os principais fornecedores, mas a Austrália ganha espaço no mercado brasileiro e já é responsável pelo fornecimento de 7% das importações do Brasil.
A eliminação da taxa de 10,8% dessa proteína pode elevar a oferta de produto australiano, mas a carne da Austrália chega ao mercado brasileiro por US$ 9,1 o kg (R$ 52). A do Paraguai, líder no fornecimento, por US$ 6,3 (R$ 36).
O fim da tarifa de massas e biscoitos, produtos que vêm de países não pertencentes ao Mercosul, também facilita as compras externas. Espanha e Portugal enviam 58% das bolachas importadas pelo Brasil.
As massas vêm, em grande parte, da Itália, da China e da Turquia, que dominam o mercado brasileiro. A tarifa de bolachas, que passa a ser zerada, era de 16,2%; e a de massas, de 14,4%.
Milho e açúcar, produtos que o Brasil tem muita presença no mercado externo, não devem receber grandes incentivos com a eliminação das tarifas. O Brasil importou 1,63 milhão de toneladas de milho em 2024, e 98% do cereal veio do Paraguai. A compra externa de açúcar é irrisória.
A retirada dos 9% sobre o café traz efeito, uma vez que os principais fornecedores são Suíça, França e Itália. Ainda com a tarifa, o preço médio do quilo importado era de US$ 14,4 (R$ 82).
Um dos componentes da redução das tarifas desses alimentos é uma possível concorrência com produtos do Mercosul, reduzindo preços nos países-membros do bloco.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.