São lancinantes os relatos do que podem ter sido os últimos dias de vida de Gene Hackman. A cada novo detalhe revelado da perícia, a história se torna mais triste e sombria.
Aos 95 anos com Alzheimer avançado, o ator passou algo como uma semana fechado em casa, sozinho, ao lado do cadáver de sua mulher, Betsy Arakawa. Ela morreu de uma virose transmitida por ratos, e ele, nas névoas da demência, pode nem ter notado isso.
Caso tenha percebido, especialistas supõem que Gene experimentou repetidas vezes o horror de encontrar a companheira morta. Via o corpo, se desesperava e se esquecia disso, num ciclo de dias a fio. Um pesadelo recorrente, com a diferença de ser muito real.
Depois de sete dias de horror e confusão mental, Gene Hackman também morreu. A causa divulgada é uma cardiopatia, agravada pelo quadro degenerativo. O velho certamente não tomou suas medicações e, aponta a investigação, não se alimentou.
Pessoas nesse estágio do Alzheimer não têm autonomia para comer, beber ou satisfazer quaisquer necessidades. Sei bem disso porque minha mãe está assim.
Ela tem cuidadores que trituram a comida e lhe dão às colheradas. Só toma líquidos na mamadeira. A doença eliminou as capacidades de mastigar e de deglutir.
A mãe é apenas o mais recente episódio de demência senil na minha família. Sei que, se viver o bastante, serei pego. Já deixo aqui avisado a meus filhos, por escrito, que desejo ser entregue a cuidados paliativos assim que ficar gagá.
Mas voltemos a Gene Hackman. Era um grande sujeito, segundo tudo o que li a respeito dele: afável, generoso, gentil.
Era também um cara que dava importância a comer bem. Chegou a ter um restaurante em Santa Fe, onde morava.
No cinema, a comida é parte central da participação de Gene em “O Jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks, possivelmente a melhor comédia já filmada.
Ele interpreta um aldeão cego, velho e solitário, que recebe o monstro em casa. Pensa se tratar de um andarilho mudo e lhe oferece sopa. O caldo quente, por óbvio, é despejado no colo do hóspede.
O roteiro não especifica qual é a sopa do homem cego. Sinto-me, então, à vontade para oferecer uma receita simples e deliciosa, em homenagem a Gene: sopa de lentilha com linguiça.
Rendimento: 2 a 3 porções
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 30 a 50 minutos
Ingredientes
1 colher (sopa) de azeite
2 dentes de alho picados
1 cebola picada
1 linguiça defumada picada
100 g de lentilha vermelha descascada (ou outra lentilha)
750 ml de caldo de frango, caldo de legumes ou água
1 folha de louro
1 colher (sopa) de páprica doce
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Azeite e salsinha para servir
Modo de fazer
1. Refogue o alho e a cebola no azeite. Refogue a linguiça. Acrescente as lentilhas, o caldo e o louro.
2. Cozinhe em fogo médio até que as lentilhas tenham se desmanchado no caldo. Tempere com a páprica, pimenta e, se necessário, sal. Sirva com mais azeite e salsinha picada.
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