O ministro Fernando Haddad (Fazenda) defendeu nesta quarta-feira (12) que o Brasil coloque em primeiro lugar a mesa de negociação já aberta com os Estados Unidos, em vez de apostar em retaliação, diante da taxação de 25% sobre aço e alumínio.
Segundo ele, o país deve mostrar aos americanos um “equívoco de diagnóstico” sobre tarifas. “O presidente Lula falou [para ter] muita calma nessa hora. Nós já negociamos outras vezes em condições até muito mais desfavoráveis do que essa”, afirmou.
“Nós vamos levar a consideração do governo americano que é um equívoco de diagnóstico. De fato, os argumentos trazidos pela indústria brasileira são muito consistentes e vão ajudar o Ministério do Desenvolvimento na mesa de negociação”, acrescentou.
De acordo com o ministro, representantes do setor siderúrgico pediram “providências” tanto com relação às importações, em resposta à preocupação com o avanço do aço chinês pelo mundo, quanto às exportações brasileiras, impactadas pela sobretaxa dos EUA.
Segundo Haddad, a estratégia não pode ser a mesma nos dois casos. “No caso das exportações, envolve uma negociação. No caso das importações, envolve uma defesa mais unilateral. Nós vamos analisar [a proposta que eles fizeram].”
Na manhã desta quarta, o titular da Fazenda se reuniu com Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, e outros representantes do setor. Também estiveram no encontro os secretários Rogério Ceron (Tesouro) e Guilherme Mello (Política Econômica).
Os empresários do setor privado também trouxeram para análise da Fazenda medidas de proteção da indústria nacional.
As tarifas de 25% sobre aço e alumínio implementadas pelos Estados Unidos sobre todos os parceiros comerciais, “sem exceções ou isenções”, entraram em vigor nesta quarta-feira (12). A medida havia sido anunciada pelo presidente Donald Trump em fevereiro.
O Brasil é um dos principais exportadores de produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, e também será afetado.
O chefe da equipe econômica disse que os empresários do setor estão “imaginando formas de negociar” com os americanos. A jornalistas, Haddad rebateu o argumento dos EUA de que o Brasil tem feito uma espécie de revenda, exportando aço de outros países, como a China.
“As nossas vendas não são revendas, como sugeriu o discurso oficial dos EUA. Nós não revendemos nada no Brasil. O que a gente importa de aço não tem nada a ver com o que a gente exporta de aço”, afirmou.
“Nem faz parte da cadeia de produção, porque nós exportamos produtos semiacabados e importamos produtos acabados, então, não faz o menor sentido ser acusado de reexportar o que nós estamos importando. Não teria nem lógica esse argumento”, complementou.
Segundo dados do governo dos EUA, no ano passado o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 20,9% do total, seguido pelo Brasil –16%, com 3,88 milhões de toneladas. Em janeiro, o país foi o maior exportador do mês em volume (499 mil toneladas).
A medida eliminou a cota mínima estabelecida. Até então, não eram aplicadas taxas ou tarifas de importação até um determinado volume de produtos importados. Agora, aço e alumínio importados estão sujeitos a tarifas, independentemente da quantidade comprada.
As tarifas afetarão US$ 147,3 bilhões (cerca de R$ 855 bilhões) em produtos derivados feitos desses metais.
De acordo com o ministro, a indústria do aço demonstrou preocupação com as declarações do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e da Fazenda de que o Brasil vai tratar a questão “na base da reciprocidade”. Ele, contudo, disse que a prioridade é seguir com as negociações já em andamento.
O governo brasileiro queria o adiamento da entrada em vigor da taxação, mas os americanos não atenderam ao pleito. A equipe do governo Lula começou a discutir o impacto das tarifas já na terça-feira (11). As primeiras conversas ocorreram assim que a Casa Branca confirmou a aplicação da medida.
Haddad disse que a Fazenda irá produzir uma nota técnica para auxiliar o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) nas tratativas. “Quem capitaneia esse processo no governo é o Ministério do Desenvolvimento, mas a pedido do vice-presidente Alckmin, a Fazenda sempre dá suporte técnico, como outros ministérios também devem dar”, afirmou.
Na quinta (6), Alckmin encabeçou uma videoconferência com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e com o representante de Comércio americano, Jamieson Greer.