A aceleração dos investimentos da Petrobras se tornou tema de preocupação entre analistas após a divulgação do lucro de 2024, que teve queda de 70% em relação ao ano anterior. Os maiores aportes tiveram impacto direto nos dividendos distribuídos pela empresa.
Em 2024, a Petrobras investiu R$ 91 bilhões, alta de 31% em relação a 2023, o maior valor desde 2015. Em dólares, que é como a estatal costuma divulgar esse indicador, o investimento ficou 15% acima da projeção estabelecida para o ano.
O tema foi o mais explorado em teleconferência com analistas nesta quinta-feira (27). A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a empresa investiu mais para antecipar a produção de plataformas no campo de Búzios, que será o maior produtor da Petrobras a partir de 2025.
Os investimentos adicionais, diz a empresa, foram feitos para reverter atrasos em plataformas do campo, como P-78 e P-79, e antecipar outras unidades. A empresa diz que identificou que fornecedores estavam tendo dificuldades para comprar insumos e poderiam atrasar os projetos.
“Entendemos que precisávamos proteger investimentos e proteger projetos das dificuldades que agentes econômicos vinham apresentando e nos relatando”, afirmou Magda. Ela disse que antecipações desse montante não se repetirão em 2025.
Internamente, críticos da gestão dizem que a mudança garante números favoráveis ao governo, que vê a estatal como indutora de investimentos, ao mesmo tempo em que reduz dividendos, que são calculados sobre o saldo entre a geração de caixa, os custos e os investimentos.
“O menor saldo entre a geração de caixa operacional e os investimentos (que acabou resultando na distribuição de um dividendo regular menor que o esperado) trazem uma frustração aos números divulgados”, escreveram analistas da Ativa.
A Petrobras anunciou a distribuição de R$ 9,1 bilhões, elevando o valor aprovado no ano para R$ 75,8 bilhões. Em nota, disse que seguia sua política de remuneração e que o valor garante a sustentabilidade da companhia, apesar do prejuízo de R$ 17 bilhões no quarto trimestre.
A corretora Ativa destacou que o valor corresponde a R$ 0,71 por ação, bem abaixo do R$ 1,1 por ação que esperava.
Para além dessa questão, há uma preocupação com a pressão do governo para que a companhia seja um motor de desenvolvimento da economia, como ocorreu em gestões petistas anteriores até a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Analistas do Citi lembraram em relatório que a Petrobras vinha tendo dificuldades de cumprir suas metas de investimentos devido a desafios externos. “Contudo, este ano, a Petrobras não apenas cumpriu, como ultrapassou a projeção. O que podemos esperar dos investimentos para 2025 e além?”, questionam.
“O acionista controlador da Petrobras tem sido claro sobre o uso da empresa para acelerar o crescimento do PIB”, escreveram nesta quinta analistas do Goldman Sachs, reiterando que ainda acreditam no poder da governança interna para barrar influências.
Na contramão, o Banco do Brasil afirmou, também em relatório, que “a opção por acelerar investimentos em projetos de retornos elevados nos parece mais acertada do que o aumento da remuneração ao acionista neste momento”
As preocupações do mercado são reforçadas por discursos repetidos tanto de Magda quanto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o papel da estatal no desenvolvimento econômico do país.
A Petrobras patrocinou nas últimas semanas duas cerimônias para apresentar investimentos ao lado de Lula, que vem rodando o país em busca de melhorar sua popularidade —a pior de suas três gestões, segundo o Datafolha.
Nesses eventos, Magda tem prometido acelerar investimentos e apoiar a indústria nacional, um dos focos da visão desenvolvimentista de governos petistas para a estatal. No balanço divulgado nesta quarta-feira (26), ela reforçou o fato de que os aportes da Petrobras representam 5% dos investimentos do Brasil.
Ela voltou a defender, porém, que a companhia só investe em projetos considerados rentáveis. “Em 2024, entregamos um retorno total ao acionista da ordem de 20%, considerando a valorização da ação e o pagamento de dividendos”, afirmou a executiva.
“Não vemos a decisão de antecipar investimentos negativa por si só”, escreveram os analistas do Goldman Sachs. “Contudo, achamos que a redução da meta de investimento anunciada em agosto pareceu apressada e levou investidores a acreditar em maiores dividendos, o que acabou não ocorrendo.”
Nesta quinta, Magda disse que entende a frustração dos analistas com dividendos, mas o resultado da antecipação de investimentos será “óleo no bolso mais rápido”. “É o sonho de consumo de todo investidor em uma petrolífera”, afirmou.
“É óleo novo, de alto potencial de produção, num campo altamente rentável”, afirmou. A presidente reconheceu que a redução da projeção de investimento feita em agosto pode ter sido exagerada, mas defendeu que o aporte ficou ainda baixo da meta anterior, de US$ 16,5 bilhões (R$ 94 bilhões).