A insatisfação colocou o brasileiro no grupo liderado pelos europeus, que, segundo pesquisa da Ipsos, consideram falha na política habitacional do governo. No Brasil, isso ganha um peso adicional porque o governo Lula criou o Minha Casa, Minha Vida e, agora, enfrenta desgaste devido à pressão sobre imóveis.
Com os juros elevados, valores de imóveis para a compra em alta e aluguéis em patamares que expulsam moradoras de áreas centrais, os brasileiros colocam a responsabilidade pelo problema nas políticas públicas.
Quase metade (44%) dos entrevistados pelo Monitor de Habitação 2025 acredita que o Brasil está no caminho errado nessa questão e 64% dizem que o país não dá atenção suficiente à moradia. Para 52%, é dever do poder público investir na construção de novas casas e 47% da população diz não ser possível tornar as moradias mais acessíveis a menos que haja um aumento no número de novas casas construídas a cada ano.
O levantamento foi realizado em 29 países. Pouco mais de 22 mil pessoas foram ouvidas, sendo 1.000 no Brasil.
A alta taxa de juros foi apontada por 39% dos brasileiros como um dos maiores entraves ao acesso à habitação. Outros 38% reclamaram dos impostos e preços de imóveis elevados, que travam a compra da casa própria.
E para quem vive de aluguel também não está fácil: 36% disseram que o preço cobrado impede o acesso a uma moradia digna, especialmente nas regiões centrais.
Apesar disso, os brasileiros ainda possuem uma percepção melhor em relação aos habitantes de outros países. Nos 29 países pesquisados, mais da metade (52%) avalia que o governo conduz mal a política habitacional.
Na Ásia, a população está mais positiva no geral, enquanto os europeus consideram a política habitacional falha.
O peso dos aplicativos
Marcos Calliari, CEO da Ipsos, diz que a crise habitacional global tem sido uma questão persistente, marcada por um significativo descompasso entre a demanda e a oferta de moradias. “Ela é agravada pelo aumento dos preços das propriedades, urbanização e disparidades econômicas”, diz.
“A insatisfação cresce porque os cidadãos se veem ou excluídos do mercado imobiliário ou sobrecarregados por altos custos de aluguel”.
A Europa, especificamente, vive uma crise habitacional desde que o turismo pós-pandemia foi normalizado. A explosão de oferta de aluguéis de curta duração feitos via aplicativos, como o Airbnb, tem elevado os preços da moradia e dificultando o acesso a diversos bairros, agora tomados por turistas.
Segundo dados do Eurostat, instituto de estatísticas da União Europeia, o número de noites reservadas por meio de plataformas online cresceu 18,8% no primeiro semestre de 2023 ante o mesmo período de 2022; e 22,6% na comparação com 2019.
Com Stéfanie Rigamonti
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