Pisar na bola pode, numa boa. Pisar com carinho, porque, como é sabido, até matar a bola é gesto amoroso.
Mas subir nela não pode, principalmente se a medida for para distrair a torcida, para envolvê-la em polêmica secundária diante da reveladora reportagem de Allan de Abreu na revista piauí.
Subir na bola como fez Soteldo, para que ela fizesse as vezes de periscópio, ampliar a visão do jogo, talvez fosse uma jogada, como a carretilha, a caneta, o drible da vaca. Parece que não é, porque, se fosse, veríamos jogador subir na bola com seu time perdendo.
Então, ficamos assim: subir na bola com o time perdendo pode. Ganhando, como fez o Memphis Depay, não pode.
(Por sinal, comentarista Vanderlei Luxemburgo, não confunda Depay com Payet, holandês com francês, nem Vegetti com Ferreti).
Memphis teria causado um desastre em Itaquera se em São Paulo houvesse duas torcidas nas arquibancadas.
E ele sabe muito bem que existe uma ética entre os boleiros que precisa ser respeitada.
O mundo mudou.
Palavras caíram em desgraça e em desuso porque magoam pessoas que sofrem preconceito.
Argumentar com a alegria do jogo é forçar a barra ou banalizar a felicidade, a preço muito barato.
Respeito é bom e todo mundo gosta.
“Ah, mas veio da CBF como sugestão da Conmebol”, diz alguém.
Sim e, por isso mesmo, mais um motivo para não botar o carro adiante dos bois: de sugestão da Conmebol você foge, não acata, ainda mais se servir para encobrir o que realmente importa, como as mesadas pornográficas dos presidentes de federações estaduais, o dinheiro desviado do aprimoramento das arbitragens para a compra de votações unânimes, para voos da alegria com parlamentares e magistrados etc.
Daí o Sport virar vítima de dois pênaltis escandalosos em duas rodadas do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro perder jogador expulso sem que nem falta tenha cometido enquanto o Atlético Mineiro mantém o seu porque, acovardado, o assoprador de apito economizou o segundo cartão amarelo.
A mediocridade segue, a corrupção moral e material passa por unanimidade, as casas de apostas têm agora até o respaldo publicitário de pretendente à Presidência da República e o futebol brasileiro vira chacota mundial.
Enquanto isso, para extrapolar o imundo futebol, Donald Trump bota fogo no circo do sacrossanto mercado, candidato a coveiro do capitalismo, coisa que nem Karl Marx nem Vladimir Lênin sequer sonharam em seus melhores devaneios.
Se duvidar, a Fifa ainda haverá de se arrepender da escolha dos Estados Unidos para sediar tanto o Mundial de Clubes quanto a Copa do Mundo, porque nada é mais tóxico no momento do que o pretenso novo rei do planeta Terra.
Para tudo
“Pare o mundo que eu quero descer/ Que eu não aguento mais escovar os dentes/ Com a boca cheia de fumaça…/ Você acha graça porque se esquece/ Que nasceu numa época/ Cheia de conflitos entre raças…/ Pare o mundo que eu quero descer/ Que eu não aguento ouvir mais/ Falar em crise do petróleo…/ Que vai aumentar/ E pensar que a poluição/ Contaminou até as lágrimas/ E eu não consigo mais chorar/ E ainda por cima/ Ter que pagar pra nascer/ Ter que pagar pra viver/ Ter que pagar pra morrer” (Silvio Brito).
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