A Delta Air Lines recuou em sua orientação financeira para o ano inteiro devido à incerteza em torno do comércio global, um sinal claro da turbulência que se espalha pelas empresas americanas devido às tarifas do presidente Donald Trump.
Embora a Delta ainda preveja um lucro em 2025, a empresa se recusou a reafirmar a previsão emitida em janeiro, quando a companhia aérea disse que os lucros ajustados anuais superariam US$ 7,35 (R$ 42,90) por ação. A perspectiva será atualizada ao longo do ano, à medida que a visibilidade melhorar, disse a Delta nesta quarta-feira (9) ao relatar resultados do primeiro trimestre melhores que o esperado.
“Com o nível de incerteza que estamos vendo e a quantidade de mudanças que ocorrem diariamente no comércio global, é muito difícil prever como as políticas podem se desenrolar ao longo do ano”, disse o CEO Ed Bastian em entrevista.
À medida que a confiança entre consumidores e empresa diminui, a companhia vê o crescimento estagnando.
Como a primeira companhia aérea dos EUA a relatar resultados, os comentários da Delta dão uma visão inicial de como as empresas estão navegando nas políticas de Trump, que abalaram a economia global. Várias companhias aéreas alertaram no mês passado que a volatilidade já estava pressionando as viagens domésticas, e Bastian acrescentou que agora está acompanhando de perto se a retração pode se estender a áreas-chave, como demanda premium e internacional.
O CEO deu destaque à fraqueza na entrevista à CNBC, dizendo que a companhia aérea está “agindo como se estivéssemos entrando em uma recessão” e que “todos estão adotando uma postura defensiva”.
A Delta detalhou as medidas adotadas proativamente para preservar caixa e se preparar para uma possível desaceleração, incluindo a redução de despesas de capital desnecessárias e o corte de planos de crescimento de capacidade para zero no segundo semestre. Ao mudar sua previsão, a empresa também mantém as expectativas dos investidores sob controle, sem prometer lucros difíceis de prever.
A companhia aérea está “buscando proteger margens e fluxos de caixa enquanto controla o crescimento e gerencia custos e despesas de capital”, disse a analista da Jefferies, Sheila Kahyaoglu, em nota.
PREÇOS MAIS ALTOS
A gestão Trump colocou tanto aliados quanto adversários em alerta com tarifas abrangentes que ameaçam aumentar os preços de tudo, desde abacates e automóveis até tênis e aço.
O aumento dos custos e a incerteza econômica provavelmente impactarão a disposição dos consumidores de gastar em itens de grande valor, como viagens, disseram analistas. O sentimento antiamericano também pode desempenhar um papel, com a Air Canada já vendo uma queda nas viagens dos EUA e a Virgin Atlantic Airways alertando sobre a demanda enfraquecida em rotas transatlânticas para o Reino Unido.
A falta de certeza “exige que a gestão das companhias aéreas neste momento considere eliminar as orientações para o ano inteiro”, disse Michael Linenberg, analista do Deutsche Bank, em relatório sobre o setor na terça.
Bastian afirmou que o impacto até agora para a Delta tem se concentrado nas vendas de passagens domésticas, com a demanda internacional “se mantendo razoavelmente bem”. Ainda assim, ele reconheceu a destruição significativa de riqueza nos mercados recentemente, que poderia ter um impacto maior nos gastos dos consumidores.
“Sabemos que não somos imunes e estamos observando isso cuidadosamente”, disse sobre as viagens internacionais e premium.
Embora a Delta tenha se afastado de sua previsão para o ano inteiro, a companhia aérea ofereceu uma previsão para o segundo trimestre. O lucro ajustado no período atual será de US$ 1,70 (R$ 9,92) a US$ 2,30 (R$ 13,42) por ação, de acordo com um comunicado. Os analistas esperavam cerca de US$ 2,29 (R$ 13,37) em média, de acordo com estimativas compiladas pela Bloomberg. A receita estará em uma faixa de queda de 2% a aumento de 2%.
O lucro ajustado do primeiro trimestre da Delta foi de US$ 0,46 (R$ 2,68) por ação, em comparação com US$ 0,39 (R$ 2,28) esperados por analistas. A receita de US$ 13 bilhões (R$ 75,8 bi) estava aproximadamente em linha com as expectativas.
A sorte da companhia aérea mudou repentinamente após um início de ano melhor que o esperado. Mas Bastian disse que o ambiente atual é bem diferente do início da pandemia, quando as preocupações com a saúde levaram a uma paralisação quase imediata na maioria das viagens.
“Tendo vivido essa experiência, eu não chamaria isso de sombrio de forma alguma. É mais incerteza. Como resultado disso, o crescimento estagnou”, disse ele.
Colaborou Ryan Beene